NOTA: Conforme o original
A América Antecolombiana
«O infante Henrique
falleceu em Sagres a 13 de novembro de 1460, havendo nascido na cidade do Porto
a 4 de março de 1394. Adoptou como empreza uns pequenos ramos de carvalho com
fructos e a legenda, Talent de bien faire. A sua morte
não diminuiu o enthusiasmo para novos descobrimentos, e commetteram-se feitos
tão arrojados e coroados de tão bons resultados, que constituem hoje a nossa
brilhante epopéa marítima. Affonso V em 3 de dezembro de 1460 fez doação ao
infante Fernando, duque de Vizeu, seu sobrinho [nasceu a 17 de Novembro de 1433
e morreu em Setúbal a 18 de Setembro de 1470, foi casado com D. Beatriz e pai
do rei Manuel I (JDACT)], das ilhas - da
Madeira, Porto Santo, Dezerta, S. Luiz, S. Diniz, S. Jorge, S. Thomaz, Santa
Iria, Graciosa, S. Miguel, Santa Maria, S. Jacob, Filippe, de las Maias, S.
Christovam e Lana, e de Jesus Christo, com todas as rendas, direitos e
jurisdicções - que a nós ora em ellas pertence e de direito devemos
de haver, assim como as de nos havia o infante D. Henrique meu tio que Deus
haja… O infante Fernando fez concessão do senhorio das ilhas do Fayal e
Pico a Jooz Dutra ou Job Huerter, que as povoou. A carta regia de 31 de maio de
1509 diz: ter já a concessão das capitanias das ditas ilhas o mesmo Job Huerter,
sendo n’esta data confirmado o cargo com a jurisdicção, rendas e privilégios, que
havia requerido, e gosavam os capitães da ilha da Madeira. Além deste documento
existe no Archivo da Torre do Tombo uma sentença passada no juizo da coroa em 6
de setembro de 1571, onde se diz que Job Huerter, a instancias do infante Fernando,
duque de Vizeu, mestre da ordem de Christo, viera povoar as duas ilhas Fayal e
Pico, pertencentes á mesma ordem, ficando as capitanias para elle e seus
descendentes.
A mania de tentar descobrimentos
para usofruir as capitanias com as suas rendas e privilégios de juro e herdade,
levou vários aventureiros a requererem concessões de suppostas ilhas ou terras
firmes, antes mesmo de empreenderem as viagens, e alcançaram do monarcha despacho
provável. Assim: A Ruy Gonçalves da
Camara, pela carta regia passada
em Almyde (Almeirim?) a 21 de junho de 1473, se fez doação de juro e herdade de
qualquer ilha, que elle por si ou navio seu achasse, com todas as suas rendas, direitos
e jurisdicções.
A Fernão Telles, mordomo
mór da princeza D. Joanna, n’outra carta passada em Extremoz a 22 de janeiro de
1474, foram concedidas as ilhas que descobrisse, por si ou por seu mandado, no mar
Occeano com suas rendas, direitos, etc..
Os pedidos de senhorio de
ilhas ou continentes que lograssem descobrir em arriscadíssimas viagens, feitas
á custa da fazenda real, deram logar a bastantes desastres e perdas, e levaram
Affonso V a consultar, por intermédio do seu capellão, o conego Fernando Martins,
o celebre medico-cosmographo florentino Paulo de Pozzo Toscanelli, sobre as probabilidades
de bom resultado em tão arriscadas tentativas marítimas. A resposta escripta em
latim, com a data de 25 de junho de 1474, affirma a possibilidade de ir ao Oriente
pelo Occidente, attenta a esphericidade do globo (existe uma copia da própria letra
de Colombo em um volume da Biblioteca Colombina
de Sevilha. Esta carta foi ultimamente reproduzida em facsimile por Henry
Harirsse na sua obra - D. Fernando Cólon
historiador de su padre. Sevilha 1871).
D. João II, pela carta regia passada em Santarém a 30 de junho de 1484,
fez doação, a Fernando Domingues Arco, do senhorio, com todas as mais regalias,
de qualquer ilha que descobrisse. A Fernando de Ulmo ou Dulmos, capitão na Ilha
Terceira, foi confirmado pelo mesmo monarcha, em carta regia datada de Lisboa a
24 de julho de 1486, o contracto sobre a Ilha das Sele cidades (Antilia), feito com João Affonso Estreito,
morador no logar do Funchal da Ilha da Madeira.
A este mesmo João Affonso Estreito foram concedidas as rendas e direitos
das ilhas ou terra firme que descobrisse. Houve outro João Affonso, piloto
intelligente e ousado, que por despeito de faltas de recompensa aos seus muitos
serviços, foi para França, onde andou em navio de corso, e por ter a sua residência
em Saintongeois, logar nas humediações de Cognac, assim o appelidaram
de Saintongeois.
Por esta circumstancia alguns escriptores francezes o deram como seu
conterrâneo. Deixou uma Hydrographia manuscripta da qual se publicou um extracto
em 1559, sendo o auctor já fallecido, com o titulo - Voyages aventureux du capitaine Jean
Alphonse Saintongeois. Este piloto, andou na armada do celebre corsário
João Ango, que tantos prejuízos causou a Portugal roubando os navios que vinham
carregados de mercadorias da Índia e do Brazil (no archivo da Torre do Tombo (Corp.
chron. parte 1." maço 57, doe. 94) acha-se um documento em que Francisco I
de França por uma carta patente de 27 de agosto de 1536, mandou restituir a
Portugal as tomadias que os piratas da sua nação haviam feito em navios
portuguezes)». In A. C. Teixeira de Aragão, Breve Notícia sobre o Descobrimento da
América, Mckew Parr Collection, Maggellan, BrandeisUniversity (Lo que nos
importa), Tipografia da Academia Real das Ciências, Lisboa, 1892.
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Ciências/JDACT