quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Trovador Guilhade. A sua Terra de Origem. António da Costa Lopes. «… do nome do trovador, assinaladas por ele próprio nos seus cantares, a mais breve é, pura e simplesmente, Guilhade. Emprega-a duas vezes. Doutras vezes, o poeta apresenta-se como João de Guilhade e Dom João de Guilhade, e, noutras cantigas, como Dom João Garcia»

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O Nome. Os dados
Por estranho que pareça, o nome completo do nosso trovador não aparece em nenhum dos seus cantares, nem nas referências que ao vate foram feitas por autores medievais de composições poéticas, nem nas rubricas atributivas que o nomeiam nos apógrafos da Biblioteca Nacional de Lisboa e da Biblioteca Apostólica Vaticana, nem na lista de Autoriportughesi (Tavola colocciana). Na Idade Média, que eu saiba, o nome todo do poeta só figura nas Inquirições de 1258, num texto e contexto em que não se vê conexão alguma com a actividade poética do trovador: [...] propter metum et minas [...] Johannis Garcie de Guiladi.
Dito isto, vejamos, em primeiro lugar, um aspecto da originalidade do nosso autor:
  • Guilhade é dos raríssimos poetas trovadorescos que a si próprios se nomeiam nas suas obras. Os outros foram João Airas Santiago, João Servando e Rodrigo Eanes Alvares.
Entre as várias menções do nome do trovador, assinaladas por ele próprio nos seus cantares, a mais breve é, pura e simplesmente, Guilhade. Emprega-a duas vezes. Doutras vezes, o poeta apresenta-se como João de Guilhade e Dom João de Guilhade, e, noutras cantigas, como Dom João Garcia. Vejamos, em seguida, como é que outros poetas medievais o denominam:
  • João de Guilhade e João Garcia; ambas estas formas se encontram numa tenção do trovador João Soares Coelho e do jogral Lourenço, na qual é tida em conta a rima, por exemplo, com deslealdade e criia, respectivamente. A forma João Garcia depara-se-nos ainda noutros versos, de três autores: do jogral Lourenço, nas duas tenções em que ele responde a Guilhade; de João Soares Coelho; e de Rui Queimado, trovador que chama a João Garcia meu amigo.
A propósito de Rui Queimado, importa observar que, para a questão principal do presente estudo, não é indiferente a identificação do amigo João Garcia com João Garcia de Guilhade, identificação esta geralmente admitida pelos autores que se ocupam de Queimado. Quanto às rubricas atributivas, quer do Cancioneiro da Biblioteca Nacional, quer do Cancioneiro português da Biblioteca Vaticana: todas elas consignam João de Guilhade, nenhuma, João Garcia. E o mesmo se diga da Tavola colocciana. Transcorrida a documentação até agora indicada e aproveitada acerca do nome do poeta enquanto poeta, não é esse o caso das Inquirições de 1258 nem de outra documentação que aduzirei a propósito de Guilhade, infere-se que:
  • em matéria de autonomeações, Guilhade, só, ou aposto ao prenome João predomina sobre João Garcia;
  • as rubricas atributivas e a Tavola colocciana registam apenas João de Guilhade;
  • nos versos de João Soares Coelho, Lourenço e Rui Queimado, é João Garcia que prepondera sobre João de Guilhade;
  • o título dom figura apenas em quatro canções, todas do próprio Guilhade.
Por último, no tocante às grafias dos próprios códices da Biblioteca Nacional, da Vaticana e da Ajuda, bem como da tavola Autori portughesi, é de notar o seguinte, desenvolvidas as abreviaturas:
  • O título aparece invariavelmente grafado don. 
  • Johan, Joham e Jam, tais são as grafias do prenome.
  • Treze vezes se acha escrito Garcia, contra uma só vez Garzia, e esta única vez, numa composição na qual ambas as grafias se encontram.
  • Onde aqueles manuscritos apresentam mais diferenças, é no que se refere ao apelido Guylhade, l0 vezes; Guilhadi, 5; Guilhade, 2; Gaylhade, 2; e Guglhade, 2.
Se alguma consideração merecem estas últimas diferenças (Guylhade, etc.), não é tanto por causa do erro, confusão ou distracção deste ou daquele escriba, copista ou leitor que haja tomado Ga por Gu, etc., etc.. No apógrafo da Biblioteca Nacional, numa cantiga do trovador, lê-se Guilhade, enquanto na coluna seguinte vem Guilhadi; e semelhantemente no Cancioneiro da Vaticana, Guylhade e Guilhadi. Mais! Numa rubrica atributiva do primeiro destes cancioneiros encontra-se Guilhadi, ao passo que na mesma coluna, na poesia que imediatamente se segue à rubrica, está escrito Guylhade; e analogamente no segundo cancioneiro: Guilhadi na rubrica, e Guylhade no cantar por ela encabeçado». In António da Costa Lopes, O Trovador Guilhade e a sua Terra de Origem, Câmara Municipal de Barcelos, 2003, DLegal nº 196982/03.

continua
Cortesia da CM de Barcelos/JDACT