quinta-feira, 25 de abril de 2013

Poesia. Antero de Quental. «Situação de extremos romântica por excelência, isolamento radical do homem: a existência perdida como o som de um canto que se extingue, o do poema que finda e deixa em nós…»

Cortesia de wikipedia

Despondency
Deixá-la ir, a ave a quem roubaram
ninho e filhos e tudo, sem piedade...
Que a leve o ar sem fim da soledade
onde as asas partidas a levaram...

Deixá-la ir, a vela que arrojaram
os tufões pelo mar, na escuridade,
quando a noite surgiu da imensidade,
quando os ventos do Sul se levantaram...

Deixá-la ir, a alma lastimosa,
que perdeu fé e paz e confiança,
à morte queda, à morte silenciosa…

Deixá-la ir, a nota desprendida
dum canto extremo... e a última esperança...
e a vida... e o amor... deixá-la ir, a vida!

Soneto de Antero de Quental, Ponta Delgada

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