segunda-feira, 1 de abril de 2013

Poesia. Camilo Pessanha. «O desengano da comunicação, o espectro do mistério e da morte a que a fantasia da felicidade se sobrepõe, ligando o humano com a natureza e o sagrado»

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Floriram por engano as rosas bravas
Floriram por engano as rosas bravas
no Inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
as vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
de mãos dadas? Teus olhos, que um momento
perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobre nós cai nupcial a neve,
surda, em triunfo, pétalas, de leve
juncando o chão, na acrópole de gelos...

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze, quanta flor! - Do céu,
sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

Soneto de Camilo Pessanha, Coimbra

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