quinta-feira, 23 de maio de 2013

A Condessa-rainha. Teresa. Luís Amaral. Mário Barroca. «O efémero sucesso da expedição levou vários nobres francos a permanecer em território peninsular. Com efeito, a grande expedição de 1063-1064 ajudou a cimentar as relações entre a Coroa de Aragão e algumas casas senhoriais de além-Pirenéus»

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«(…) Depois destas expedições pioneiras é necessário avançar para a segunda metade do século XI para voltarmos a ter notícia de incursões francesas em espaço ibérico. São elas que mais nos interessam porque é nelas que se enquadra a vinda de Raimundo e de Henrique de Borgonha para a Península. A primeira grande expedição da segunda metade do século XI que é usualmente registada foi a de Barbastro, em 1063-1064. Jean Richard refere, no entanto, uma outra, anterior, organizada pelo duque de Borgonha, Roberto I, o Velho em socorro do conde de Barcelona, Berenguer Raimundo Borel, na sequência da qual teria sido acordado o casamento de seu filho Henrique, Le Damoiseau, com uma filha do conde de Barcelona.
A segunda expedição franca, ade Barbastro, está melhor documentada. Na sequência da morte de Ramiro I de Aragão (1035-1063) no cerco de Grados, o duque Guilherme VIII da Aquitânia organizou e comandou uma grande expedição militar que penetrou no espaço ibérico e levantou cerco a Barbastro. Nessa expedição integraram-se outros grandes senhores como Thibaut de Semur, conde de Chalon-sur-Saône, que veio a falecer em 1065 em Tolosa, no regresso de Barbastro, e um contingente normando comandado por Guilherme Crespin, para além de efetivos catalães conduzidos pelo conde de Urgel, Ermengol III. O cerco de Barbastro, que durou quarenta dias, foi coroado de êxito e quando o exército vitorioso se retirou a tenência da cidade foi confiada ao conde de Urgel. A conquista de Barbastro teve uma enorme ressonância no mundo muçulmano, tendo sido pormenorizadamente registada por Ibn Hayans. Mas a resposta muçulmana não tardou. Logo em 1065, al-Muqtadir, rei da taifa de Saragoça, com o auxílio de efectivos vindos de várias zonas do al-Andaluz, conseguiu reconquistar Barbastro. Na sua defesa viria, de resto, a falecer o conde Ermengol III.
O efémero sucesso da expedição levou vários nobres francos a permanecer em território peninsular. Com efeito, a grande expedição de 1063-1064 ajudou a cimentar as relações entre a Coroa de Aragão e algumas casas senhoriais de além-Pirenéus. É na sua esteira que Félicie de Roucy, filha do conde Hildouin III de Roucy e irmã de André de Ramerupt e de Eble de Roucy, dois nobres que participaram na expedição de 1063-1064, acabaria por casar com o rei de Aragão, Sancho Ramires (1063-1094), em 1071. Depois do episódio de Barbastro, as cruzadas transpirenaicas em solo ibérico conheceram um impulso decisivo dado pelo papa Gregório VII (1073-1085). Em Maio de 1073, o pontífice enviou uma epístola aos grandes senhores da cristandade, exortando-os a participarem na cruzada contra os sarracenos de Espanha ao lado do conde Eble de Roucy, que, como Gregório VII esclarecia, planeava realizar uma grande expedição para resgatar o reino de Hispânia que pertenceu, antigamente, de direito a São Pedro.
O conde, que, como vimos já, participara na expedição de 1063-1064, pretendia portanto regressar ao palco ibérico. O papa advertia, no entanto, que aqueles que desejassem entrar na Península com as suas tropas, ao lado de Eble de Roucy, deviam tomar a firme resolução, de não abandonar as terras depois da sua conquista, numa clara referência a situações que se tinham vivido num passado recente, nomeadamente em Barbastro. E que apenas beneficiariam do apoio papal se tivessem a intenção de voltar a devolver o reino aos direitos de São Pedro. A epístola de Gregório VII ajudou a relançar as cruzadas peninsulares, então ainda sem a concorrência, das cruzadas do Próximo Oriente.
Em 1078, o duque de Borgonha, Hugo I, filho de Henrique de Borgonha e de sua mulher, uma filha do conde de Barcelona, Berenguer Raimundo I, o Curvo, organizou uma nova expedição militar francesa em apoio de Sancho I de Aruagão (1063-1094). As fontes revelam que terá sido conquistada uma importante cidade cujo topónimo, no entanto, foi omitido:

O duque Hugo dos Borgonheses e muitos outros grandes senhores da Gália prepararam uma segunda expedição à Hispânia. [...] Chegados à Hispânia com aquele duque, tomada uma das nobres cidades da Hispânia e devastada parte dessa região, carregaram o saque de grande valor e regressaram a casa, levando consigo o maior número de prisioneiros. In Petit, 1886.

». In Luís Amaral, Mário Barroca, A Condessa-rainha, Teresa, coordenação de Ana Maria Rodrigues e Outras, Círculo de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4702-1.

Cortesia de C. Leitores/JDACT