(1871-1955)
«Maria Veleda foi uma
mulher pioneira na luta pela educação das crianças e os direitos das mulheres e
na propaganda dos ideais republicanos, destacando-se como uma das mais
importantes dirigentes do primeiro movimento feminista português. Tendo-se
estreado na imprensa algarvia e alentejana com a publicação de poesia, contos e
novelas, dedicou-se depois aos temas feministas e educativos. Na linha da
escola moderna de Francisco Ferrer, defendia a educação laica e
integral, em que se aliassem a teoria
e a prática, a liberdade, a criatividade, o espírito crítico e os valores
éticos e cívicos. Num tempo em que a literatura infantil quase não
existia em Portugal, publicou, em 1902,
uma colecção de contos para crianças, intitulada Cor-de-Rosa e o opúsculo Emancipação
Feminina.
Em 1909, por sua iniciativa, a Liga
Republicana das Mulheres Portuguesas fundou a Obra Maternal para acolher e educar crianças abandonadas ou em
perigo moral, instituição que se manterá até 1916, graças à solidariedade da sociedade civil e às receitas
obtidas em saraus teatrais, cujas peças dramáticas e cómicas Maria
Veleda também escrevia e levava à cena. Em 1912, o governo nomeou-a Delegada
de Vigilância da Tutoria Central da Infância de Lisboa, instituição
destinada a recolher as crianças desamparadas, pedintes ou delinquentes, cargo
que ocupou até 1941.
Consciente da situação de
desigualdade em que as mulheres viviam,
numa sociedade conservadora e pouco aberta à mudança, iniciou, nos primeiros
anos do século XX, um dos maiores combates da sua vida:
- defender a igualdade de direitos jurídicos, cívicos e políticos entre os sexos. Numa época em que as mulheres estavam, por imperativos económicos, sociais e culturais, confinadas à esfera doméstica, criou cursos nocturnos no Centro Republicano Afonso Costa, onde era professora do ensino primário, e nos Centros Republicanos António José de Almeida e Boto Machado, para as ensinar a ler e a escrever e as educar civicamente, preparando-as para o exercício de uma profissão e a participação na vida política.
Entre 1910 e 1915, como
dirigente da Liga Republicana das
Mulheres Portuguesas e das revistas A
Mulher e a Criança e A Madrugada,
empenhou-se na luta pelo sufrágio feminino, escrevendo, discursando, fazendo
petições e chefiando delegações e representações aos órgãos de soberania.
Combateu a prostituição, sobretudo, a de menores, e o direito de fiança por
abuso sexual de crianças. Fundou o Grupo
das Treze para combater a superstição, o obscurantismo e o fanatismo
religioso que afectava sobretudo as mulheres e as impedia de se libertarem dos
preconceitos sociais e da influência clerical que as mantinham submetidas aos
dogmas da Igreja e à tutela masculina. Convertida
ao livre-pensamento e iniciada na Maçonaria, em 1907, aderiu também aos ideais da República e tornou-se oradora dos Centros Republicanos,
escolas liberais, associações operárias e intelectuais, grémios, círios civis e
comícios do Partido Republicano, da Junta Federal do Livre-Pensamento e da
Associação Promotora do Registo Civil. Alguns destes discursos e conferências
foram publicados no livro A Conquista,
prefaciado por António José de Almeida.
O combate à monarquia e ao
clericalismo valeu-lhe a condenação por abuso de liberdade de imprensa, em 1909, além das constantes perseguições
e ameaças de morte, movidas por alguns sectores católicos e monárquicos mais
conservadores. Depois da implantação da República,
por ocasião das incursões monárquicas de Paiva Couceiro, integrou o Grupo
Pró-Pátria e percorreu o país em missão de propaganda, discursando em defesa do
regime ameaçado. Em 1915, em
consonância com o Partido Democrático de Afonso Costa, juntou-se aos
conspiradores na preparação do golpe revolucionário que destituíu o governo
ditatorial do General Pimenta de Castro e, a seguir, envolveu-se na propaganda
a favor da entrada de Portugal na 1ª. Guerra Mundial. Nesse mesmo ano, saíu
da Liga, filiou-se no Partido
Democrático e fundou a Associação
Feminina de Propaganda Democrática, cuja acção terminou em 1916, em nome da União Sagrada de todos os
portugueses, na defesa dos interesses da Pátria ameaçada.
Desiludida com a actuação dos
governos republicanos que não cumpriram as promessas de conceder o voto às
mulheres nem souberam orientar a República
de modo a estabelecer as verdadeiras Igualdade,
Liberdade e Fraternidade e construir uma sociedade mais justa e melhor,
abandonou o activismo político e feminista em 1921, após os acontecimentos da
noite sangrenta. Fez-se jornalista do Século e de A Pátria de
Luanda, onde continuou a defender os ideais feministas e republicanos que
sempre a nortearam. Atraída pelos caminhos da espiritualidade e do esoterismo e
preocupada com o sentido da existência humana, aderiu ao espiritismo
filosófico, científico e experimental. Fundou o Grupo Espiritualista Luz e Amor e, em 1925, dinamizou a organização do I Congresso Espírita Português e
participou na criação da Federação Espírita Portuguesa. Fundou as revistas A
Asa, O Futuro e A Vanguarda Espírita e colaborou na imprensa
espiritualista de todo o país, publicando poesia e artigos de pendor reflexivo
e memorialista. Em 1950, publicou as Memórias
de Maria Veleda no jornal República.
Maria Veleda dedicou a vida aos
ideais de justiça, liberdade, igualdade e democracia e empenhou-se na
construção de uma sociedade melhor, onde todos pudessem ser felizes. Semeou
ideias, iniciou processos de mudança nas práticas sociais e lançou o debate
sobre os lugares, os papéis e os poderes de mulheres e homens num mundo novo». In
Natividade Monteiro, Maria Veleda, Professora, feminista, Republicana e livre-pensadora, Espiritualista,
Wikipédia.
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