quinta-feira, 13 de junho de 2013

Estudos sobre a Ordem de Avis. Séculos XII-XV. Maria Cristina A. Cunha. « O hábito dos hospitalários era igualmente simples e compunha-se de uma veste ou capa negra comprida, de mangas largas, sobre a qual era posta uma cruz branca de oito pontas»

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«(…) O terceiro voto, de pobreza, consignado na Regra de S. Bento, implicava que o futuro monge dispusesse de todos os seus bens antes de receber o hábito, e se contentasse apenas com aquilo que os seus superiores entendessem por bem dar-lhe. No que respeita a Calatrava, este preceito foi determinado desde o início por Inocêncio III, que logo em 1199 adverte os freires calatravenhos que omnia debent esse comunia. Também a Regra da Ordem de Santiago exigia que os espatários vivessem sem bens, propriedades ou rendimentos, próprios: a ordem entregar-lhes-ia o suficiente para seu sustento. Esta situação de sine proprio vivere também se verificava na Ordem do Hospital.
A pobreza estava associada à humildade e à simplicidade que os freires deviam patentear em todas as ocasiões. Daí que, por exemplo na Ordem de Calatrava, fossem proibidas os mantos com pontas, bem como adereços lustrosos e brilhantes. Também os arreios dos cavalos e as armaduras não deveriam ser muito trabalhadas nem ter decorações em metais nobres como o ouro. Este cuidado em regulamentar os luxos está igualmente patente no hábito que os membros das Ordens militares deviam usar, e que devia ser confeccionado com tecidos simples ou mesmo grosseiros. O voto de pobreza era assim evidente na proibição de uso de peles ou tecidos ricos e vistosos. A mesma regra se devia aplicar no corte do cabelo:
  • em Calatrava, eram proibidas as tranças ou os penteados extravagantes. No século XIII, e tendo em vista uma melhor adaptação às actividades militares, foi permitido aos hospitalários usar sobrevistas vermelhas, com uma cruz branca nelas colocadas. Também os cavaleiros de Avis podiam usar, para cavalgar, uma túnica curta de carneiro. O hábito religioso dos freires de Calatrava era formado por um escapulário, uma capa e um capuz ou capelo, todos confeccionados em estamenha, pano pardo ou sarja branca, a que no Inverno se podia juntar um manto de pele de carneiro. Em Santiago, os membros leigos deveriam vestir-se honestamente, de cores brancas, pretas e pardas. O hábito dos hospitalários era igualmente simples e compunha-se de uma veste ou capa negra comprida, de mangas largas, sobre a qual era posta uma cruz branca de oito pontas.
Estrutura interna das Ordens em Portugal
Feita uma abordagem, necessariamente genérica, à história inicial das milícias torna-se imperioso saber como é que estariam organizadas, isto é, saber qual seria a estrutura de cada uma delas e como funcionariam do ponto de vista interno. Instituições que congregavam um grande número de pessoas, nobres e não nobres, as Ordens Militares organizaram-se estruturalmente de forma a permitir que todos os seus membros formassem grupos coesos, o que nem sempre foi possível. Nem todos os freires teriam, obviamente, a mesma importância, e, consequentemente, as tarefas que deveriam cumprir eram igualmente diferentes.
Tanto o Priorado de Portugal da Ordem do Hospital, como a Província de Portugal da Ordem do Templo eram partes de estruturas muito mais vastas que não cabe aqui analisar. Bastará dizer que, no que toca aos hospitalários, que a sua estrutura internacional estava hierarquicamente organizada, tendo à cabeça um Grão-mestre que dominava os vários órgãos colegiais de poder:
  • O Capítulo Geral, o Convento e os Conselhos Ordinário e Completo.
O território que a Ordem do Hospital dominava estava dividido em circunscrições, chamadas Línguas ou Nações, Portugal fazia parte da Língua de Castela e Portugal, que incluía, além destes dois priorados, o de Leão e o de Aragão. A unidade administrativa que constituía o Priorado de Portugal tinha como responsável máximo o Prior que actuava de acordo com as orientações dadas pelo Capítulo provincial, órgão colectivo a que presidia. Dentro do priorado existiam as bailias, unidades estas relacionadas com os primórdios da Ordem e, finalmente, as comendas. Era nestas últimas que se encontravam os freires hospitalários portugueses na Idade Média.
No que respeita à Ordem do Templo, é possível detectar semelhanças entre a sua estrutura e a da Ordem de Cister, o que se compreende se tivermos em conta o que dissemos a propósito das origens da milícia. Tal como o abade-geral cisterciense, o Grão-mestre templário detinha extensos poderes sobre os freires e sobre o património da instituição. Mas esta relação de dependência face à cabeça da milícia foi matizada pelos próprios condicionalismos geográficos da base patrimonial da Ordem do Templo:
  • as distâncias fizeram com que a presença dos mestres provinciais nos capítulos gerais não fossem anuais, como acontecia em Cister, mas apenas de quatro em quatro anos. A supervisão das Províncias foi então entregue a visitadores, na impossibilidade do Grão mestre cumprir essas funções. A Península Ibérica formou precisamente um núcleo independente de visita.



Com frequência, porém, o cargo de visitador recaiu sobre um dos mestres Provinciais peninsulares, o que implicou a perda de eficácia das ditas visitas. Portugal constituía uma Província, que, tal como as outras, tinha uma estrutura em tudo semelhante à do governo geral. Na sua base, encontravam-se as comendas». In Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto, 2009.

Cortesia da Faculdade de Letras do Porto/JDACT