A luta contra o primado de Toledo
«(…) Por outro lado cuidou de preparar uma boa recepção
também doutra forma: fazendo transportar consigo os privilégios de ambos os
mosteiros tributários que levara por sua mão à Santa Sé, Santa Cruz e Grijó,
para que fossem confirmados. Também com os templários portugueses se pôs de
acordo; um mensageiro enviado por estes apareceu com o bispo em Roma. Os
templários já haviam tomado pé em Portugal vinte anos antes e precisamente então,
por ocasião da conquista de Santarém, haviam feito um acordo com o rei, do qual
resultaram relações cada vez mais íntimas entre a Ordem e o Reino português.
Também este facto era de molde a melhorar a posição de Portugal
na cúria; pois os templários ocupavam já nesse tempo uma situação privilegiada
no favor do papa. Assim empreendeu o arcebispo João, no verão de 1148, pela quarta vez, à longa viagem
até a Cúria, que alcançou em Brescia. A viagem obteve pelo menos um êxito parcial.
Eugénio III não lhe levou em conta a sua longa oposição, absolvendo-o da
suspensão, e exprimiu ainda em 8 de Setembro de 1148 a reabilitação do arcebispo em novo privilégio. (Rodrigo de
Toledo, sabe além disso, evidentemente por meio do extractos dos registos
papais, de muitos outros privilégios e indulgências, que Afonso Henriques,
segundo ele, conseguiu de Eugénio III e que devem ser datados ou de Setembro de
1148 ou de Junho de 1153. Infelizmente não os conhecemos; possível, embora
absolutamente incerta, é a confirmação papal do bispado de Lisboa o do convento
de S. Vicente de Fora). Mas quanto a libertar-se da dependência do primado de
Toledo, também agora o não conseguiu João Peculiar; Eugénio III manteve a
política do seu predecessor. Assim teve o arcebispo de prometer fazer a pesada
caminhada de Toledo e submeter-se. Esperava talvez que também agora o caso
ficasse em palavras. O que é certo é que não se apressou a, executar a promessa
e recebeu por isso de Eugénio III, em 19 de Dezembro de 1149, a pedido do rei Afonso VII de
Castela, nova e severa ordem, com renovada ameaça de suspensão. Mesmo assim,
ainda hesitou o arcebispo João. Deixou passar mais uma vez o prazo fixado, recaindo
pela segunda vez, pelo menos em princípio, durante seis semanas na pena de
suspensão. Então, porém, dirigiu-se para Toledo com grande séquito e, em 16
de Maio de 1150, na presença de
vários bispos e do infante Fernando, prestou obediência ao arcebispo Raimundo
como seu primaz, o que os toletanos logo escrituraram em diploma. Que isto foi
um acto de alta política, não é necessário dizê-lo. Na companhia do arcebispo
bracarense, apareceu também um embaixador do rei de Portugal, para renovar a
paz com Castela sete anos antes concluída por intermédio do cardeal legado Guido:
a sujeição de Braga era claramente o juro que Portugal tinha de pagar pela
ansiada paz.
No favor do papa havia, porém, agora, o arcebispo de Braga, sujeitando-se
finalmente à sua vontade, desalojado o rival toletano. Já no ano anterior Eugénio
III se havia manifestado, em termos extraordinariamente severos, a respeito do
arcebispo Raimundo de Toledo, tendo-se interessado pelos direitos de Toledo só
a pedido do rei Afonso VII. Quando agora João de Braga anunciou ao papa a sua
submissão, e ao mesmo tempo se queixou de que o arcebispo Raimundo pelo seu
proceder o tinha desnecessariamente exasperado, achou crédito e provocou nova
censura do papa ao arcebispo de Toledo». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no
primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto
Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.
Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT