segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Michael Baigent. Eichard Leigh. Henry Lincoln. «… sua complexidade, outras eram patentemente, mesmo flagrantemente,óbvias. No segundo pergaminho, por exemplo, as letras levantadas, quando tomadas em sequência, formavam uma mensagem coerente»

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O Mistério. Cidade de Mistério
«(…) Encorajado por seu amigo Boudet, Saunière iniciou em 1891 uma restauração modesta, utilizando uma pequena soma emprestada dos fundos municipais. Durante os trabalhos, removeu o altar-mor, uma pedra que repousava sobre duas antigas colunas visigóticas. Uma dessas colunas revelou-se oca. Dentro dela havia quatro pergaminhos guardados em tubos de madeira selados. Dois desses pergaminhos continham genealogias, uma datada de 1244 e outra de 1644. Os dois documentos restantes haviam sido compostos, aparentemente, nos idos de 1780, por Antoine Bigou, um dos predecessores de Saunière em Rennes-le-Château.
Bigou havia sido também capelão pessoal da família nobre Blanchefort, que no início da Revolução Francesa ainda era uma das mais importantes donas de terras da região. Os dois pergaminhos do tempo de Bigou eram textos virtuosos em latim, extraídos do Novo Testamento. Pelo menos, aparentavam isso. Em um deles, no entanto, as palavras se seguiam de forma incoerente, sem espaço entre elas. Várias letras supérfluas haviam sido inscritas. No segundo pergaminho as linhas eram truncadas de forma indiscriminada e irregular, algumas no meio de uma palavra, enquanto certas letras estavam evidentemente levantadas acima das outras. Na realidade, os pergaminhos continham uma sequência de códigos e cifras, alguns deles fantasticamente complexos e imprevisíveis. Sem a chave certa, eram indecifráveis. A seguinte decodificação surgiu em trabalhos franceses dedicados a Rennes-le-Château, e em dois de nossos filmes sobre o assunto, realizados para a BBC.
  • Bergere pas de tentation. Que Poussin, Teniers gardent la clef. Pax DCLXXXI. Par la croix et ce cheval de Dieu j'acheve ce daemon de gardien a midi. Pommes bleues. [Pastor, nenhuma tentação. Que Poussin, Teniers possuem a chave. Paz DCLXXXI (681). Pela cruz e seu cavalo de Deus, eu completo (ou destruo) este demónio do guardião ao meio-dia. Maçãs azuis].
Se algumas dessas cifras eram desencorajadoras em sua complexidade, outras eram patentemente, mesmo flagrantemente,óbvias. No segundo pergaminho, por exemplo, as letras levantadas, quando tomadas em sequência, formavam uma mensagem coerente.
  • A Dagobert roi et a sion est ce tresor et il est la mort. [A Dagobert rei e a Sion pertencem este tesouro e ele está aqui morto].
Embora esta mensagem deva ter sido compreensível para Saunière, é de se duvidar que ele possa ter decifrado os códigos mais intricados. Entretanto, ele percebeu que havia tropeçado em algo importante. Com o consentimento do prefeito da cidade, levou sua descoberta até seu superior, o bispo de Carcassonne. Não se sabe o quanto o bispo entendeu, mas Saunière foi imediatamente enviado a Paris, despesas pagas pelo bispo, instruído a se apresentar a algumas autoridades eclesiásticas com os pergaminhos. Entre elas estavam o abade Biel, director-geral do Seminário Saint Sulpice, e seu sobrinho Emile Hoffet, que naquele tempo estava aspirando à vida religiosa. Embora ainda estivesse nos seus vinte anos, ele já havia estabelecido uma reputação intelectual impressionante, especialmente em lingüística, criptografia e paleografia. A despeito de sua vocação pastoral, ele era sabidamente envolvido com o pensamento esotérico e mantinha relações cordiais com os vários grupos orientados para o oculto, além de seitas e sociedades secretas que proliferavam na capital francesa.
Estes contactos introduziram Saunière em um círculo cultural ilustre, que incluía figuras literárias como Stéphane Mallarmé e Maurice Maeterlinck, bem como o compositor Claude Debussy. Ele também conheceu Emma Calvé que recentemente havia retornado de apresentações triunfantes em Londres e Windsor. Emma Calvé era como uma diva, a Maria Callas da época. Ao mesmo tempo, era uma grande pitonisa da sub-cultura esotérica parisiense, mantendo relações amorosas com vários ocultistas influentes.
Após apresentar-se a Bieil e Hoffet, Saunière passou três semanas em Paris. O resultado de suas reuniões com os eclesiásticos é um mistério. O que se sabe é que o padre provinciano foi pronta e calorosamente recebido no distinto círculo de Hoffet. Afirma-se mesmo que ele se tornou amante de Emma Calvé, que, segundo um conhecido seu, ficou obcecada pelo padre. De qualquer modo, não há dúvida de que eles gozaram de uma estreita e longa amizade. Nos anos que se seguiram, ela o visitou frequentemente nas vizinhanças de Rennes-le-Château, onde, até recentemente, podiam-se encontrar corações românticos gravados com suas iniciais nas rochas das montanhas.
Durante a permanência em Paris, Saunière passou também algum tempo no Louvre, o que pode explicar o facto de, antes de sua partida, haver adquirido reproduções de três pinturas. Uma delas teria sido um retrato, pintado por um artista não identificado, do papa Celestino V, que reinou brevemente no final do século XIII. Outra teria sido o trabalho de David Teniers, não se sabe se o pai ou o filho. O terceiro seria um quadro, talvez o mais famoso, de Nicolas Poussin, Les Bergers d'Arcadie [Os pastores da Arcádia]».

In Michael Baigent, Eichard Leigh, Henry Lincoln, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, 1982, tradução de Nadir Ferrari, Editora Nova Fronteira, 1993, ISBN: 852-0904-74-2, O Sangue de Cristo e o Santo Graal, Editora Livros do Brasil, Colecção o Despertar dos Mágicos, Lisboa, tradução de Elsa Vieira, 2004, ISBN 972-38-2651-8.

Cortesia Nova Fronteira/Livros do Brasil/JDACT