No topo do vulcão
«Sob este mar jaz o segredo da
legendária ilha-continente da Atlântida. Escrevo estas palavras nas bordas do
vulcão que forma a ilha de Santorini, cercada pelas águas do Mar Egeu, no
Mediterrâneo oriental. Olhando por sobre as rochas que separam a estrada superior
dos íngremes rochedos vulcânicos, vejo lá em baixo a baía, que é, de facto, por
sua vez, um vulcão cheio de água, profundo e obscuro. E no meio desta baía de
Santorini, guardada agora pela neblina da manhãzinha, duas ameaçadoras ilhas
vulcânicas que, com o passar do tempo geológico, se ergueram apenas bem
recentemente do mar. Fumaça sulfurosa ainda emana delas, pois não são
pacíficas; são um elo directo entre a vasta força dilaceradora dentro da terra,
e todos nós, que vivemos precariamente na casca deste planeta.
Tememos os vulcões, e estamos
certos. Nossa memória curta pode nos isolar dos perigos potenciais que estão
abaixo de nossos pés, mas apenas enquanto escolhemos ignorar a candente e borbulhante
realidade, logo abaixo. Uma vez passei uma noite nas bordas de um vulcão
extinto, o Monte Quintamani, na ilha de Bali. Um hotel para doze pessoas
havia sido construído ali. O vulcão havia muito estava apaziguado; as memórias
do último desastre, na década de 20, haviam desvanecido, e dormi sem sonhos
maus. Mas o Santorini é diferente: o passado turbulento, que abrange
pelo menos 3.500 anos de convulsões violentas, está sempre ao nosso lado. A
série de erupções em Santorini, também conhecida como Thera, foi tão
severa que agora parece certo que causou a destruição de avançada civilização,
que o antigo filósofo-poeta grego, Platão, chamou Atlântida.
Exactamente quando e em que sequência
temporal esta lendária Atlântida
foi destruída, é de pouca importância, se olharmos para a baía aparentemente
sem fundo, a caldeira, parcialmente
cercada pelas ilhas menores
que formam este grupo. É realidade forte, tristonha e sombria, em vivido
contraste com as brilhantes e alegres pinturas murais que os arqueólogos
encontraram sob a poeira vulcânica que cobre esta ilha. Desde que Platão falou
da Atlântida,
muita especulação sobre a vida e localização da ilha, ou continente, tem
cruzado nosso caminho. Os atlantes
seriam capazes dos feitos tecnológicos que rivalizariam
ou excederiam os nossos? Somos, ou alguns de nós são antigos residentes reencarnados da
Atlântida? Houve aviso suficiente antes da Atlântida ser engolfada,
para permitir a seus habitantes escapar e levar suas artes e ciências a outras
partes do mundo, do Egipto às
Américas? E a Atlântida, como seu nome implica, situava-se no Oceano Atlântico?
Agora, no topo deste vulcão, defrontamo-nos com a
realidade, não com a lenda, não com pensamentos imaginosos ou combinações
engenhosas de factos dispersos que poderiam sugerir uma ou outra resposta ao
enigma da Atlântida. A nova evidência que emergiu, e que promete dar as
mais definitivas réplicas às questões sobre a Atlântida, está bem aqui, dentro
da caldeira à nossa frente e no sítio
arqueológico de Acrotiri, em Santoríni mesmo. Estas bordas rochosas
da ilha-vulcão são por si mesmas evidência concreta. Um olhar para elas, e
vemos variadas camadas de vermelho, cinza, negro, marrom e preto; explosões
mesmo das entranhas da Terra causaram esta palheta de cores. Cinzas, escórias,
lavas e, principalmente, pedra-pomes acumularam-se umas sobre as outras. Vimo-las
primeiro do barco, ao chegar-se a uma das duas pequenas enseadas, Thera,
também conhecida como Fira, e Atínios. Destaca-se claramente um
nível diferenciando-se acima do outro, cada um representando um longo período
da história vulcânica da ilha.
Ao passo que a caldeira é muito profunda para permitir a
ancoragem de embarcações, pequenos aparelhos visitam os elementos concretos e
visíveis do violento passado do grupo de ilhas: a Palea Caimeni (Ilha
Queimada Velha), e Néa Caimeni (Ilha Queimada Nova),
aboletadas dentro da baía. Uma viagem a Néa Caimeni, que apareceu na
caldeira no começo do século XVIII, leva-nos à Baía de Petrulion, desta
ilha. É uma ladeira inclinada, até ao pico da ilha; não há sombras, e a subida
é quente e exaustiva. Sendo árdua, a subida oferece inúmeras razões de parar e
olhar a paisagem. Lava e cinza vulcânica são aqui e ali misturadas com pequenas manchas
de vegetação que, com a persistente ousadia da natureza, irrompem pelas
encostas áridas. Aqui também, há camadas que sugerem o crescimento intermitente
da ilhota desde que emergiu do mar, em 1707;
ravinas, cortes na superfície, e recortes no chão são uma evidência geológica
do crescimento.
Quando atingimos o pico de Néa Caimeni, não há mais
dúvida de que é a própria borda do vulcão. Olhamos directo para sua cratera, rei
Jorge I. Fumos de enxofre, escapando aleatoriamente, relembram-nos que aqui temos
um vislumbre da Terra em sua essência mais inquieta. Para qualquer um, é uma
visão assombrosa, que não requer recordação da história destrutiva do Santorini;
a sensação de drama violento, passado
e futuro, é onipresente. Mas como a existência do vulcão de Santorini
une a moderna ciência com a antiga
Atlântida?
Mostra
concretamente que, em tempos pré-históricos, este vulcão, dentro do Mar Egeu,
experimentou uma explosão para a qual não há paralelo, na extensão de sua violência
e danos potenciais, muito além de seus horizontes. Há evidências suplementares,
a partir de escavações que principiaram em 1967
em Santorini mesmo, na vila de Acrotirí. Estas escavações demonstraram
que a ilha era parte activa e culturalmente avançada da civilização minóica, da qual o palácio de Cnossos, em Creta,
ao sul, é o exemplo mais amplamente conhecido». In Martin Ebon, Atlântida, As Novas
Provas, Editora Pensamento, Brasil, Wikipédia.
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