domingo, 1 de setembro de 2013

Duas Irmãs para um Rei. Isabel de Castela e Maria de Castela. Isabel Guimarães Sá. «Isabel fora dada anteriormente em casamento ao príncipe herdeiro Afonso, único filho de João II e D. Leonor, tendo enviuvado em consequência do desastre que o vitimou, pelo que ostentou dois títulos da Coroa portuguesa: primeiro princesa de Portugal e depois sua rainha»

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Introdução. Um casal de Reis. Isabel de Castela e Fernando de Aragão
«É tempo de falar de duas irmãs, Isabel e Maria, filhas dos Reis Católicos, Fernando de Aragão e Isabel de Castela (o título de Reis Católicos foi concedido pelo papa Alexandre VI a Fernando e Isabel apenas em 1496. Por comodidade, chamá-los-emos assim doravante. Ou ainda reis de Castela, como são designados pelas fontes portuguesas), que a História guardou para a posteridade como tendo sido os pais da Espanha moderna, os obreiros da unificação de vários reinos peninsulares. Duas meninas, em cinco irmãos, dos quais apenas um era rapaz, o príncipe Juan. As outras duas irmãs, Joana e Catarina, também rainhas: uma rainha proprietária, de Espanha e a outra rainha de Inglaterra (rainha proprietária era o título dado a uma rainha sobre quem recaía a sucessão ao trono, distinguindo-a assim de uma mera consorte. Joana foi rainha de Castela, embora nunca tenha reinado).
Isabel foi a primeira filha de seus pais, nascida na vila de Dueñas, nas cercanias de Valhadolid, nos primeiros dias de Outubro de 1470. Isabel de Castela, sua mãe, a quem doravante chamaremos sempre Isabel, a Católica, ou Isabel I, para a distinguir da filha do mesmo nome, viveria depois largos tempos sem dar à luz. O nascimento do seu segundo filho, Juan, talvez o mais querido,  por ser varão, e nele se depositar a esperança da sucessão do trono espanhol, ocorreu cerca de oito anos depois. Depois vieram Joana, que casou com o duque de Borgonha e viria a ficar louca, Maria, doze anos mais nova do que Isabel, e finalmente Catarina. Todas estas crianças são, umas mais outras menos, conhecidas dos historiadores; esta pequena biografia dupla tentará dar alguma conta de todas elas, pelo menos no que diz respeito à sua infância conjunta.
Mas debruçar-se-á sobretudo sobre Isabel e Maria porque ambas se casaram com o rei Manuel I, e foram rainhas de Portugal. Isabel fora dada anteriormente em casamento ao príncipe herdeiro Afonso, único filho de João II e D. Leonor, tendo enviuvado em consequência do desastre que o vitimou, pelo que ostentou dois títulos da Coroa portuguesa: primeiro princesa de Portugal e depois sua rainha, no seguimento do seu matrimónio com Manuel I. O critério seguido para esta biografia é a intersecção destas duas figuras com a história de Portugal. Isabel foi rainha durante escassos meses, mas, teve algum impacte na evolução dos acontecimentos políticos. Maria, pelo contrário, exerceu o papel de rainha consorte ao longo de pouco mais de dezasseis anos, e a sua importância é mais biológica (teve muitos filhos) do que política ou qualquer outra.
Adverte-se de que não está perante uma investigação baseada em longas temporadas de arquivo, e consequente leitura de manuscritos inéditos, embora eles não estejam ausentes. Na impossibilidade de viajar pelos arquivos de Castela e Aragão de forma sistemática, concentrar-me-ei neste trabalho nas fontes impressas disponíveis e na numerosa bibliografia, sobretudo recente, que os historiadores espanhóis (e de outras historiografias) têm publicado ao longo da última década. Autores que a historiografia portuguesa não tem, salvo raras excepções, nem explorado sistematicamente nem confrontado com as informações fornecidas pelos nossos cronistas.
Não se esqueça que os Reis Católicos representavam dois reinos, ambos com os seus cronistas próprios. E que, já, na época, apesar do tom laudatório que sempre acompanha as crónicas, os seus feitos foram bastante gabados. Não a unificação do país, efectuada através do seu casamento, facto reversível se as circunstâncias históricas tivessem sido outras, mas sim a expertise política dos dois membros do casal, a conquista de Granada, uma guerra santa, e a descoberta das Américas por Colombo. Outra razão havia para os Reis Católicos investirem nas crónicas do seu reinado: o facto de Isabel ter chegado ao trono contendendo os direitos de uma rival, Joana de Trastâmara, tornou necessário legitimar a sua actuação política». In Isabel Guimarães Sá, Rainhas Consortes de D. Manuel I, Isabel de Castela, Maria de Castela e Leonor de Áustria, C. de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4710-6.

Cortesia de CL/JDACT