Introdução. Entre
Duas Civilizações. A Entrega a Esse Outro que me torno EU
A Metodologia
«(…)
No decurso da presente investigação encontraram-se algumas dificuldades para a
sua concretização. Uma delas, a impossibilidade de viajar ao País do Sol
Nascente e procurar descobrir as paisagens e sentimentos que despertaram em
Moraes a sua escrita e
sensibilidade. Outra, fora a impossibilidade da fuga à subjectividade, pois
apesar da elaboração de uma dissertação se querer clara e objectiva, facilmente
nos vemos embrenhados numa subjectividade inevitável, própria daquele que se
revê nas palavras do outro, sobretudo quando há uma identidade entre sujeito e
objecto. Para tal, seguiu-se a metodologia própria daquele que documenta, e na
impossibilidade de percorrer a viagem empreendida por Wenceslau, houve a pesquisa de documentos da época, selecção e
análise de artigos sobre as temáticas
da saudade e do exílio, da troca de correspondência entre o autor e os
seus contemporâneos (como Camilo Pessanha), a leitura de
estudos (como os de Armando Martins Janeira) sobre a relação entre o
Oriente e o Ocidente, a pesquisa de artigos e de exposições na Fundação
Oriente, recolha fotográfica e audição de música tradicional japonesa.
Objectivo
Compreender
o que este português encontrou numa civilização tão diferente da sua, que fez
mudar os seus padrões culturais, sempre
com os sentimentos do exílio e da saudade presentes na sua alma e no seu
coração, sentimentos tão particulares do seu povo; um português que
procurou manter um contacto diplomático quer com os seus conterrâneos, quer com
os japoneses, mas terminou os seus dias sozinho em Tokushima; e
encontrar por fim na imagem de Moraes
o exemplo do viajante humanista,
o elo de ligação entre culturas,
a possibilidade de conhecer o outro e de dar
a conhecer também a sua cultura, a sua língua, aquele que reúne em si o eu e o
outro. Finalmente, a sua importância no ensino da língua portuguesa
como língua segunda ou estrangeira, como exemplo do expoente máximo da
possibilidade de união de duas culturas.
A Estrutura
No Primeiro Capítulo verifica-se o Estado da Arte, no qual se
abordam autores nacionais e estrangeiros, que investigaram e estudaram tanto o
homem que foi Wenceslau, como a sua
obra literária, procedendo-se a um comentário crítico dessas mesmas teorias,
encaminhando o estudo para as problemáticas levantadas. O Segundo Capítulo é
dedicado à vida e à obra de Wenceslau,
apresentam-se os principais momentos da sua vida, as pessoas mais próximas que
com ele conviveram e as obras que foi escrevendo. Para o desenvolvimento deste
capítulo foram essenciais as correspondências trocadas entre amigos e
familiares, assim como o testemunho fotográfico encontrado. No Terceiro
Capítulo são abordadas as relações históricas e culturais entre o Ocidente e o
Oriente no período compreendido entre o século XVI até à actualidade. As
principais fontes documentais foram as diversas obras e artigos de Maria de
Deus Manso sobre a difusão do cristianismo e a influência dos jesuítas no Oriente,
e a obra de Armando Martins Janeira, O
Impacto Português sobre a Civilização Japonesa. Dá-se essencial
ênfase ao contributo dos padres jesuítas no ensino da língua portuguesa no
Oriente, na criação dos primeiros dicionários bilingues e tradução para japonês
dos clássicos da cultura ocidental. No Quarto Capítulo desenvolve-se a temática
da obra de Wenceslau enquanto
documentário, abordando problemáticas levantadas aquando da leitura de Álvaro
Manuel Machado sobre a escrita de Moraes
enquanto mito histórico ([…] um mito histórico no sentido em que António
José Saraiva o define ao traçar uma síntese da nossa cultura, relevando o
valor fantasmagórico desencadeado na memória de um povo por essa função mítica
[…]. In Álvaro Manuel Machado, O mito do Oriente na Literatura Portuguesa,
Lisboa, 1983) enquanto exemplo do exotismo orientalista da moda da época e o
facto de os seus textos serem um mero conhecimento enciclopédico. Este capítulo
subdivide-se noutros três, fazendo-se a análise das duas principais obras em
estudo: Traços do Extremo Oriente e Notícias
do Exílio Nipónico, das quais são apresentados excertos
exemplificativos do estilo literário do autor; na terceira parte enunciam-se os
diversos temas que Moraes apresenta
ao longo das suas obras, como os costumes, as lendas, o vestuário, a habitação
japonesa, entre muitos outros, revelando que a ideia de interdisciplinaridade
está sempre presente». In Maria Margarida Silva Faria Capitão, Entre duas civilizações. O universo de
leituras em Wenceslau de Moraes, Dissertação de Mestrado, 2011, Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2012.
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