«(…) Se formos comissionados para
pintar uma cena cristã padrão e apresenta ao público algo que se parece
superficialmente com isso, eles nunca questionarão o seu simbolismo dúbio.
Ainda que Leonardo deva ter esperado
que talvez outros que partilhavam de sua não usual interpretação da mensagem do
Novo Testamento reconheceriam a sua versão, ou que alguém, em algum lugar,
algum observador objectivo, um dia tomaria a imagem desta misteriosa mulher
ligada com a letra M e faria as
perguntas óbvias. Quem era este M e
porque ela era tão importante? Porque Leonardo arriscaria a sua reputação e até mesmo a sua vida nestes
dias de piras flamejantes, para
inclui-la nesta crucial cena cristã? Seja quem for ela, seu próprio
destino parece menos do que seguro, porque uma mão corta através de seu
gracioso pescoço inclinado no que parece ser um gesto ameaçador. O Redentor,
também é ameaçado por um dedo indicador para cima positivamente lançado em sua
face com veemência óbvia. Tanto Jesus e M
parecem estar totalmente indiferentes a estas ameaças, cada um
aparentemente perdido no mundo de seus próprios pensamentos, cada um a seu modo
sereno e composto. Mas se símbolos secretos estão sendo utilizados, não somente
adverte Jesus e a sua companheira de seus destinos separados, mas também para
instruir [ou talvez lembrar] o observador de alguma informação que caso
contrário teria sido perigosa tornar pública. Leonardo está a utilizar
esta pintura para transportar alguma crença particular que teria sido muito
insano partilhar com uma audiência mais ampla de um modo óbvio? E pode
ser que esta crença possa ter uma mensagem
para muito mais do que um círculo imediato, talvez mesmo para nós hoje?
Vamos olhar mais este surpreendente
trabalho. À direita do observador do afresco um alto homem barbado se inclina
quase em dois para falar com o último discípulo na mesa. Ao fazer isso, ele
fica completamente de costas para o Redentor. Neste discípulo, São Tadeu ou
São Judas, se reconhece como modelo o próprio Leonardo. Nada que os pintores da Renascença até mesmo apresentaram
foi acidental ou incluindo meramente por ser belo, e este exemplar particular
do tempo e da profissão foi conhecido ser uma insistência para a dupla ambiguidade
visual. [A preocupação dele em usar o
modelo certo para os vários discípulos pode ser detectada em sua irónica
sugestão que o irritante prior do Monastério de Santa Maria pousasse para a
personagem de Judas!]. Então porque Leonardo
se pinta olhando tão distintamente
para longe de Jesus? Há mais. Uma mão anómala aponta uma adaga
para o estômago do discípulo, uma pessoa longe do M. Por nenhum excesso de imaginação a mão pode pertencer a alguém
sentado à mesa porque é fisicamente impossível para aqueles próximos terem se
retorcido tanto para ter a adaga naquela posição. Contudo, é verdadeiramente
surpreendente, quanto a isso, não é que a mão sem um corpo exista, mas que em
toda a nossa leitura sobre Leonardo
temos chegado a apenas um par de referências a isso, e elas mostram uma curiosa
relutância em achar algo não usual quanto a isso. Como o São João que
realmente é uma mulher, nada pode ser mais óbvio, e mais bizarro, uma vez
que seja ressaltado, ainda que completamente apagado do olho do observador e
sua mente, simplesmente porque é tão extraordinário e ultrajante.
Temos frequentemente ouvido ser
dito que Leonardo era um pio cristão
cujas pinturas religiosas reflectiam a profundidade da sua fé. Até onde temos
visto, ao menos uma delas contém um conjunto de imagens altamente duvidosa em
termos da ortodoxia cristã, e nas nossa pesquisa posterior, nada pode estar
mais distante da verdade do que a ideia de que Leonardo foi um verdadeiro crente, isto é, de qualquer forma aceita
ou aceitável de cristianismo. Já as características curiosas e anómalas em
apenas um de seus trabalhos parecem indicar que ele estava tentando nos contar
uma outra camada de significado naquela familiar cena bíblica, ou um outro
mundo de crença além do ressalte aceito da imagem congelada no mural do século
XV perto de Milão. Sejas quais possam ser estas inclusões heterodoxas, elas
foram, isto não pode ser ressaltado demais, totalmente em variância com a
cristandade ortodoxa. Isto em si mesmo dificilmente é novo para os
materialistas/racionalistas de hoje, porque para eles Leonardo foi o primeiro cientista real, um homem que não tinha
tempo para superstições ou religiões de qualquer forma, que era a própria
antítese do místico ou do ocultista. Ainda que eles, também, tenham falhado em
ver que isso foi plenamente excluído diante de seus olhos. Pintar a Última Ceia sem importantes
quantidades de vinho é como pintar o momento crítico de uma coroação sem a
coroa; ou é perder completamente o ponto ou estabelecer bem um outro, na
extensão em que isso marca o pintor como nada menos que herege, alguém que
possui crenças religiosas mas que está em estranheza, talvez até mesmo em guerra,
com aquelas da ortodoxia cristã». In Lynn Picknet e Clive Prince, A Revelação
dos Templários, Narrativa, Editora Planeta, 2006, ISBN 857-6651-75-0.
Cortesia de Planeta/JDACT