«(…) Vejamos agora como
o papa João XXIII se expressou ao se referir aos jesuítas: Perseverem, queridos filhos, nas actividades que já vos trouxeram
méritos reconhecidos. Assim vós alegrareis a Igreja e crescereis com incansável
fervor: o caminho do justo é como a luz da aurora... E que a luz cresça e
ilumine a formação dos adolescentes... No seu livro, Le Silence de Pie XII,
publicado por du Rocher, Mónaco, 1965,
o autor Cario Falconi escreve em especial: A existência de tais monstruosidades,
extermínios em massa de minorias étnicas, civis prisioneiros e deportados,
ultrapassa de longe qualquer conceito de bem e mal. Desafia a dignidade dos
seres individuais e da sociedade em geral de tal forma, que leva a denunciar aqueles
que poderiam ter influenciado a opinião pública, sendo eles simples civis ou
dirigentes de governos. Para manter o silêncio diante de tamanho ultraje,
deve-se levar em conta uma colaboração inequívoca. Esta estimularia a vilania
dos criminosos, instigando a sua crueldade e vaidade. Mas se todo o homem tem o
dever moral de reagir quando confrontado com tais crimes, as sociedades religiosas
e seus dirigentes são duplamente obrigados a isso e, acima de tudo, a Igreja
Católica.
Pio XII nunca expressou
uma condenação directa e explícita da guerra de agressão, muito menos com
respeito aos crimes indescritíveis cometidos pelos alemães ou seus cúmplices durante
a guerra. Ele não se manteve em silêncio por não saber o que estava
acontecendo; sabia da gravidade da situação desde o começo, talvez até melhor
do que qualquer outro chefe de Estado do mundo. O pior ainda está por vir! O Vaticano
prestou ajuda na execução desses crimes, alugando alguns de seus
prelados para que estes se tornassem agentes pró-nazistas. Também enviou para a
Croácia seu próprio representante, R.P Marcone que, auxiliado por Stepinac,
vigiava as actividades de Ante Pavelitch e seus assessores. Onde quer que
procuremos, o mesmo espetáculo edificante se apresenta. Muito
sofrimento, condição de vida desumana, desespero e milhões de mortes nos
chamados campos de concentração nazistas: este foi o resultado do apoio da
Igreja Católica a Hitler. Dessa forma, vós ajudareis a levar avante nossos
desejos e preocupações espirituais... Nós concedemos nossa bênção apostólica de
todo o coração ao vosso prior, a vós e a vossos coadjutores, e a todos os
membros da Companhia de Jesus.
E do papa Paulo VI: Desde o tempo de sua restauração, esta
família religiosa tem recebido a carinhosa ajuda de Deus, e tem enriquecido
rapidamente e com grande progresso. Os membros da Companhia têm realizado
grandes façanhas, tudo para a glória de Deus e para o benefício da religião
católica. A Igreja precisa de soldados de Cristo com valor, armados com uma fé destemida,
prontos para enfrentar dificuldades. É por isso que temos muitas esperanças na
ajuda que vossa actividade possa trazer, e que a nova era encontre a Companhia
no mesmo caminho honrado que ela seguiu no passado (pronunciado em Roma,
próximo à Basílica de São Pedro, em 20 de Agosto de 1964, durante seu segundo
ano como papa). Em 29 de Outubro de 1965, o jornal Osservatore Romano
anunciou: O reverendíssimo padre Arrupe,
prior dos jesuítas, celebrou a Missa Sagrada pelo Concilio Ecumênico em 16 de Outubro
de 1965. Eis a apoteose da ética papal: Um pronunciamento simultâneo
sobre um projecto de beatificação de Pio XII e João XXIII. Para fortalecer a nós mesmos em nossa busca de uma renovação
espiritual, decidimos iniciar os procedimentos canónicos para a beatificação
destes dois pontífices grandes e iluminados e que são tão queridos a todos nós(?)
(papa Paulo VI). Que este livro revele a todos aqueles que o lerem a verdadeira
natureza deste mestre romano, cujas palavras são tão melífluas (brandas e
harmoniosas) quanto ferozes são suas acções secretas.
O fundador da Companhia
de Jesus, o basco espanhol Inigo Lopez Recalde, nasceu no castelo de Loyola, na
província de Guipuzcoa, em 1491. Foi
um tipo de monge-soldado dos mais estranhos já engendrados pelo mundo católico:
de todos os fundadores de ordens religiosas, ele talvez tenha sido o de
personalidade mais marcante na mente e comportamento de seus discípulos e
sucessores. Esta pode ser a razão para aquela aparência familiar ou marca,
facto que chega ao ponto da semelhança física entre eles. Folliet questiona
este facto, mas muitos documentos provam a permanência de um tipo jesuíta
através dos tempos. O mais interessante destes testemunhos se encontra no museu
Guimet. Sobre o fundo dourado de uma tela do século XVI, um artista japonês
pintou, com todo o humor de sua raça, a chegada dos portugueses e dos filhos de
Loyola, em particular, nas ilhas nipónicas. O espanto desse amante da natureza
e das cores fortes é explícito na maneira como representa aquelas sombras
longas e escuras, com suas faces desoladas, sobre as quais se capta toda a
arrogância do dirigente fanático. A semelhança entre o trabalho do artista
oriental do século XVI e nosso Daumier, de 1830,
está aí para todos verem.
À semelhança de tantos outros santos, Inigo, que posteriormente
romanizou seu nome e se tornou Ignácio, parecia longe de ser aquele
predestinado a iluminar os seus contemporâneos. A sua juventude atormentada foi
repleta de erros e mesmo crimes hediondos. Um relatório policial afirma que era
traiçoeiro, brutal e vingativo. Todos os seus biógrafos admitem que ele não recuava
nem mesmo diante de seus melhores amigos, no que envolvia a violência dos
instintos, então uma coisa comum. Era necessário um golpe físico violento para
mudar sua personalidade». In Edmond Paris, Histoire secrète des
jésuites, A História Secreta dos Jesuítas, tradução de Josef Sued, 1997, Chick
Publications, 21ª edição, Fundação Biblioteca Nacional, 2000, ISBN
093-795-810-7.
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