Identificação de ‘Gatuz’
«(…) Será este o
irmão de Vasco Esteves de Gatuz? Segundo o Livro de Linhagens atribuído ao conde Pedro, este Martim Esteves
foi irmão de Gonçalo Esteves. E, segundo o Livro
Velho de Linhagens, publicado por Alexandre Herculano nos Portugaliae
Monumenta Historico e por António Caetano Sousa nas Provas
da Historia Genealogica da Casa Real Portuguesa, também foi irmão de
João Esteves Molles e outros. Algum destes se chamaria Vasco Esteves?
Se isto vier a ser demonstrado, é possível que o escudeiro de Estremoz seja um Molles
a quem a façanha do irmão fez calar a ascendência ao longo da vida e a quem a
viúva pode ter preferido lembrar a ascendência materna, a dos Gato. Por
ora, não nos é acessível um tal esclarecimento.
Na linhagem dos Molles, é conhecido, na verdade, um Vasco
Esteves. É filho de Estêvão Rodrigues Molles e primo, em grau elevado, de
Martim Esteves Molles, por ambos terem em Paio Mendes Molles um antepassado
comum. Mas este Vasco Esteves não tem ascendentes conhecidos na família Gato.
Foi casado com D. Teresa Mendes e dela teve um filho e duas filhas. Não se
identifica, pois, com o escudeiro de Estremoz, mas pode, eventualmente, ser o cavaleiro
a que se referiu Fernão Lopes, na Chronica do Senhor Rei D. Fernando
... como um dos companheiros de Gonçalo Mendes Vasconcelos, na ida para Elvas como
fronteiro.
Vasco Esteves, o morador em
Estremoz, no caso de ser descendente de Afonso Pires Gato ou de D. Teresa Pires
Gata, irmã deste e mulher de Fernando Gonçalves Sousa e, em segundas núpcias,
de Fernando Pires Turrichão, o Velho,
ter-se-ia situado, considerando a cronologia e a esperança de vida, na quarta,
quinta ou sexta geração dos Gato,
segundo uma linha que até agora não vimos definida e devidamente documentada. O
símbolo falante, patente nas armas esculpidas no seu túmulo e não só aí, impõe,
sem dúvida, uma relação ou um significado. Qual?
A omissão em testamento, não sabemos se por lapso, se intencional ou
determinada pela rigidez de um formulário tabeliónico, dos nomes dos pais de Vasco
e Martim Esteves, os tumulados em Estremoz, gera dúvidas quanto a uma
relação com a família Gato,
que se estendem aos parentes agora conhecidos de ambos, os Nunes, os Eanes e os
Rodrigues. Na tradicional família Gato, também não encontramos nenhum
destes. Será suficiente o símbolo falante para testemunhar, no século XIV, a presença
de um descendente de Afonso Pires Gato?
Atendendo a que ao tempo se estava numa fase pré-normativa
da heráldica em Portugal, há quem hoje pense que não. Pode tratar-se de emblemática
assumida por outra razão. A argumentação é reforçada com o facto de naquela
família se encontrarem vários indivíduos designados Gato ou Gata,
mas nenhum de Gatuz. Ora, a herdade, que tinha no termo primitivo de Elvas,
Torre
de Guatus, foi, no século XIV, com precisão em 1363, pertença do escudeiro de Estremoz Vasco Esteves. É a
propriedade de maior valor de quantas vão ser legadas para sustentar a capela
por ele instituída nessa data. Quando e de quem recebeu tal imóvel, não sabemos
ainda. Demonstrada a existência, ao tempo, do topónimo Gatuz, hoje perdido, e a
relação que com ele teve Vasco Esteves, é, para nós, fora de
dúvida que foi graças a este topónimo que o escudeiro de Estremoz
recebeu o sobrenome de domínio, que o distingue ainda hoje de outros Vasco
Esteves do seu tempo». In Mário Alberto Nunes Costa, Vasco Esteves
de Gatuz e o seu Túmulo Trecentista em Estremoz, Academia Portuguesa da
Historia, 1993, ISBN 972-624-094-8.
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