Crónica. Opinião
Com
a devida vénia a Catarina Brites Soares
Alerta:
Portalegre está a morrer!
«Não há gente. Não há vida. Portalegre
está a morrer, aos poucos. E como boa morte lenta está a fazer sofrer quem a
olha de tempos a tempos e se recorda do que foi e imagina o que podia ser. Não
é preciso ser vidente para antecipar que falta pouco para de cidade passar a
aldeia e ficar perdida no meio de outras cidades que estão a crescer e nas
últimas décadas fizeram de Portalegre a parvalheira! Não há quem
queira para cá vir e os que cá estão querem fugir. Prendem-nos os escassos empregos
que ainda resistem à corrente de limpeza de serviços de que a cidade tem sido
vítima. A crise e a política de despovoamento do interior de sucessivos
governos assassinos não chegam para explicar esta morte lenta. Évora resiste
e subsiste, Castelo Branco também Elvas igualmente e poderia
continuar. Das duas uma: ou estão mais bem governadas ou as gentes são mais
exigentes. Ou as duas. Não percebo como uma câmara e quem lhe pertence vê diariamente
o que está a acontecer e permanece autista. E não se aproveitem os oportunistas
da oposição porque esses também lá estiveram e são tão ou mais responsáveis por
este estado de sítio. Mas também não percebo como as pessoas que aqui vivem se
queixam diariamente e diariamente permanecem silenciosas à espera que alguma
coisa aconteça. Portalegre já não merece o estatuto de capital de distrito.
Não há dinamismo e o que a cidade tem, está feito há décadas e décadas. Portalegre
está a anos-luz de tantas e tantas cidades aqui perto. Metam-se nos carrinhos e
em vez da voltinha de fim-de-semana aos milhares de supermercados que a cidade
oferece (porque lá nisso ninguém nos bate), dêem um saltinho a Évora
para ver como se pode viver bem no Alentejo. De Évora não apetece sair,
de Portalegre apetece fugir. Se de dia, lá vai passando um carro ou
outro, à noite mete medo e faz lembrar o mundo que restou do Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago.
Dois ou três gatos-pingados, a tentar fugir da morte pelas ruas escuras duma
cidade que parece estar sempre a dormir. E eu, que até sou de assumir culpas,
confesso que neste caso preciso de arranjar culpados. Ë os culpados são vocês
que aqui vivem e permanecem amorfos a esta morte lenta sem pelo menos reclamar
de quem vos governa mais luta pelo que também é vosso». In
Catarina Brites Soares, Semanário Alto Alentejo, nº 387, 23 de Julho de 2014,
página 18, diversos.
Cortesia
do SAAlentejo/JDACT