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e sergioveludo
O
Rosto da Batalha
«(…)
E os pretendentes à coroa espanhola, não eram poucos: uns fundamentavam a sua
pretensão em remoto parentesco, como o rei Pedro II de Portugal (descendente
de D. Maria, filha dos reis católicos Fernando e Isabel, e mulher do monarca Manuel
I), ou mesmo parentesco muito afastado, como o duque de Sabóia (trineto
de Filipe II, por sua bisavó D. Catarina); outros tinham maior legitimidade
na sua argumentação, como o rei Luís XIV (da parte do seu neto, resultado do
seu casamento com a infanta D. Maria Teresa, irmã mais velha de Carlos II),
o imperador Leopoldo I da Áustria (sua mãe, D. Maria Ana era irmã de Filipe
IV, o pai de Carlos II) e o príncipe da Baviera, José Fernando (neto da
infanta D. Margarida Teresa, irmã mais nova de Cados II), que viria a
falecer ainda em 1699, frustrando
assim os primeiros tratados entretanto acordados em 1698. Depois de inúmeros episódios ao longo dos últimos anos do
século XVII, a coroa foi legada, por testamento de 3 de Outubro de 1700, a Filipe de Bourbon, duque de Anjou,
neto e pretenso herdeiro de Luís XIV de França, com o apoio tácito do conselho
de estado de Castela e da Igreja, este manifestado explicitamente pelo papa
Inocêncio XII. Ao aceitar o testamento, Luís XIV sabia que era inevitável a guerra
contra os austríacos; mas outros factos concorreram para essa inevitabilidade,
entre eles a obrigação do rei de França relativamente aos espanhóis, para que
estes lhe concedessem assiento (direito do tráfico de
escravos negros com as Índias espanholas), a invasão dos países Baixos
espanhóis e a ocupação das praças junto da fronteira com as Províncias-Unidas.
A
perspectiva de que as coroas reunidas de França e Espanha viessem a perturbar o
equilíbrio europeu com o apoio de dois principados alemães e, no início, de
Portugal e do duque de Sabóia, que viriam a alterar a sua posição, levou o imperador
da Áustria a aliar-se com Inglaterra, Holanda, Suécia, Dinamarca e quase todos
os principados alemães, para imporem acandidatura do arquiduque Carlos de
Áustria ao trono de Espanha. Assim, nasceu a7 de Setembro de 1701, em Haia, a Grande Aliança
com alicerces lançados pelo duque de Madborough, e que visava impedir a hegemonia
francesa e, no fundo, manter o equilíbrio europeu. Entre os objectivos desta Grande
Aliança, são de destacar: a satisfação das reivindicações de Leopoldo I da
Áustria, à coroa espanhola; a ocupação dos Países Baixos espanhóis para
servirem de muralha entre a França e a Holanda, do ducado de Milão com todas as
suas dependências e do reino das Duas Sicílias, Nápoles, Sicília e ilhas do mar
Mediterrâneo; a posse das praças espanholas na América, eventualmente
conquistadas por ingleses e holandeses; e sobretudo, a garantia de que
França e Espanha nunca se reuniriam sob a mesma coroa, condição obrigatória
para a assinatura da paz.
Filipe
de Bourbon, um jovem pouco atraente
de 17 anos, viria a ser reconhecido como Filipe V de Espanha, e casou com Maria
Luísa de Sabóia então com 13 anos, pelas Cortes reunidas em Madrid e em
Barcelona, em Janeiro de 1701, tendo entrado em Madrid, num dia chuvoso de
Fevereiro do mesmo ano. Começou então a guerra no norte de Itália, a qual se
prolongaria ao longo de cerca de catorze anos, nos teatros de operações mais
diversos, como a Alemanha, Países Baixos, norte de França e a própria Península
Ibérica entre 1704 e 1713. A guerra só viria a terminar com os tratados de
Utreque, de Rastadt e de Baden (1713-1714), curiosamente com o mesmo
Filipe V a reinar em Espanha, e com Carlos a ascender ao trono austríaco após a
morte de José I.
Actores
e Interesses
A mortandade
que atingiu a Europa com a guerra dos
Trinta Anos (1618-1648), e que ceifou a vida a cerca
de 8 milhões de vidas humanas, constituiu uma referência de crítica para juristas
e filósofos. Hugo Grotius (1583-1645) foi um dos mais acérrimos críticos
do genocídio generalizado, tendo na sua obra De Jure Belli ac Pacis recomendado
moderação no combate, na execução de conquistas, no saque do país inimigo e no
trato com a população civil. Alguns anos depois, Thomas Hobbes (1588-1679),
afirmava, na sua obra Leviathan (1651), como referência
da razão, que todo o homem deve procurar a paz, enquanto tiver esperança de
obtê-la e quando isso não for possível, pode buscar e utilizar todos os recursos
e vantagens da guerra. Este direito da natureza caracterizava o final do século
XVII, tendo por base a busca da melhor paz e a utilização de todos os meios
para a defesa». In João Vieira Borges, Conquista de Madrid, 1706, Batalhas de Portugal,
Tribuna da História, Lisboa, 2003, ISBN 972-8799-08-X.
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