quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A Mensagem dos Construtores de Catedrais. Christian Jacq. «Se existe um termo inoportuno na história da cultura europeia, só pode ser o de ‘idade média’. Média, no meio de dois dos mais sombrios períodos da história: a decadência do Império Romano e o período tão pouco apropriadamente classificado como ‘Renascença’»

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Do Tempo das Pirâmides ao Tempo das Catedrais. Partir à Aventura
«Neste mundo que julgamos conhecer, há ainda grandes viagens por fazer. Principalmente na Europa das catedrais e das igrejas da Idade Média. Durante vários anos, partimos à descoberta da linguagem destes edifícios. Uma linguagem em forma de esculturas, de capitéis, de modilhões, de gárgulas, de misericórdias de estalas, de talha em madeira: em suma, uma linguagem simbólica que anima a partir do interior a matéria trabalhada por artesãos conhecedores. Ninguém contesta a poderosa originalidade da arte medieval e das suas criações. Ninguém a não ser o próprio espírito da Idade Média, que estava mais interessado em transmitir sabedoria do que originalidade. Se esta arte nos fala hoje de uma forma mágica, é, porque é, a tradução de um pensamento simbólico. Um pensamento de que perdemos a chave ou, pelo menos, julgamos tê-la perdido ,mas do qual pressentimos a importância vital, apesar dos períodos de obscurantismo que sucederam ao fim dos grandes estaleiros de obras das catedrais.
Existe uma Idade Média desconhecida ou, antes, uma Idade Média do desconhecido. É esta que vale a pena ser olhada mais de perto, porque este desconhecido está em nós próprios, é a chave da nossa serenidade e do nosso equilíbrio. As esculturas medievais têm um significado e apresentam um sentido. Oferecem-se à vista sem contar, sem calcular. E, sobretudo, a sua mensagem não é do passado, nem jamais será do passado, porque a Idade Média do símbolo não é a idade média do tempo.

A Idade Média não existe
Se existe um termo inoportuno na história da cultura europeia, só pode ser o de idade média. Média, no meio de dois dos mais sombrios períodos da história: a decadência do Império Romano e o período tão pouco apropriadamente classificado como Renascença. Estas duas idades é, que deveriam ser chamadas médias. Aquilo a que temos de continuar a chamar Idade Média, para nos conseguirmos compreender suscita nos nossos dias um vasto caudal de investigações. Numerosos eruditos cortaram a Idade Média em fatias, umas para lhe examinar a história, outras as instituições, outras os fenómenos sociais, etc. Conhecem-se muitos detalhes da história das igrejas, das formas arquitecturais, do estilo das esculturas. As escolas de interpretação digladiam-se para saber que oficina provincial predominou em determinada época, investiga-se a influência exacta da igreja, etc.
Tudo isto contribui para que se reconstitua uma Idade Média à nossa imagem, com um grande predomínio da política e da economia, as duas únicas virtudes teologais de hoje em dia mas que para a Idade Média não eram valores primordiais. E é óbvio que este tipo de reconstituição evita abordar as questões que, na nossa opinião, são as fundamentais: o que pretendiam transmitir os homens que criaram a civilização das catedrais e qual a razão porque o fizeram?

A Idade Média hoje em dia
As catedrais continuam presentes sobre a terra do Ocidente. Presentes porque tornam verdadeiramente actual a vida espiritual dos homens que as construíram. Presentes porque entramos nelas para dialogar com o seu ser simbólico, com qualquer coisa que é, mais do que nós próprios e que, no entanto, está no interior de nós mesmos. Olhos para ver, ouvidos para ouvir: estes são os instrumentos necessários para não sermos meros visitantes de edifícios mudos, mas antes homens da catedral, questionadores infatigáveis, sedentos de Conhecimento. A Idade Média das catedrais é actual, porque é, real. De facto, o que será mais real que esta vontade de viver o espírito, soberbamente incarnado na pedra? Esta constatação justifica, só por si, que se procure a mensagem esculpida na pedra ou na madeira». In Christian Jacq, Le Message des Constructeurs de Cathédrales, Éditions du Rocher, 1980, A Mensagens dos Construtores de Catedrais, Instituto Piaget, Romance e Memória, Lisboa, 1999, ISBN 972-771-129-4.

Cortesia  de IPiaget/JDACT