Introdução
«(…) Cada momento histórico
estudado dá-nos uma identidade diferente da Rua, que se traduz na evolução
da arquitectura dos edifícios, na sua escala, tipologia e também na morfologia
dos espaços exteriores. As datas para cada caracterização foram escolhidas de
acordo com acontecimentos específicos que marcaram a Rua Larga. A
representação da Rua à data de 1377,
dá-nos uma ideia bastante especulativa de como terá sido o aspecto urbano do local,
menos monumental, antes das mudanças significativas que se deram séculos
depois. Os edifícios que marcariam a Rua Larga seriam o Castelo, o Paço
Real reformado por Afonso IV e os Estudos Gerais mandados edificar pelo rei
Dinis I. A Alta, com a presença da Universidade, seria predominantemente
habitacional e comercial. Nos séculos XVI e XVII, surgem ao longo da Rua
Larga vários colégios universitários. Alguns foram transferidos da Rua
da Sofia e por vezes de início, funcionaram em habitações. Os Colégios:
Real de S. Paulo, S. Pedro, S. João Evangelista, S. Boaventura, S. Jerónimo e
de S. Bento, constituíram parte do núcleo universitário que se situava na Alta
de Coimbra, dos quais se pretende mostrar o seu aspecto original. Foi escolhido
o ano de 1678, quando se deu a
conclusão do Colégio de S. Boaventura.
O século XVIII, destacou-se pela
execução de obras como, a Via Latina, a Biblioteca ou a Torre da
Universidade no Paço das Escolas, mas também por projectos que não foram
concluídos ou sequer começados, como o Observatório ao Largo do Castelo, o
Colégio de S. Paulo Eremita, ou o Colégio de S. Paulo de Giacomo Azzolini. Em 1799, concluído o Observatório
Astronómico no Pátio das Escolas, e na sequência da Reforma Pombalina, é
imaginada uma Rua Larga, pontuada tanto pelos edifícios consumados, como
pelos idealizados. Quanto ao início do século XX, embora não se trate de uma
época que se tenha destacado por grandes alterações, representa e acumula a
história, que dentro de pouco tempo, será apagada. No ano de 1934, cristalizado na Planta
Topográfica de Coimbra, muitos edifícios, quer habitacionais, quer de
outros tipos, tinham atravessado séculos e chegaram até aqui mais ou menos
alterados.
Nesta
altura, a Rua Larga era palco de uma vida intensa, fruto da diversidade
de actividades aí desenvolvidas: comerciais,
habitacionais, lazer, ensino. A variedade de estilos arquitectónicos
foi suprimida pela construção da Cidade Universitária do Estado Novo. Com o
plano de Cottinelli Telmo, responsável pela revolução urbanística realizada ao
longo dos anos 40 a 70, a Alta de Coimbra e a Rua Larga
mudaram a sua identidade. A última mudou a sua configuração, não só no
alinhamento como na largura, comprimento e elevação. Instalaram-se grandes
edifícios de aulas, regulados por um plano geométrico, axial, monumental, numa
estética representativa do regime de então. Contudo, o conjunto como se vê no
Plano Geral dos anos 50/60 e no perfil de 1966,
não foi realizado na sua totalidade. A construção do novo hospital no local do
Colégio de S. Jerónimo e dos pórticos a ligar os vários edifícios em torno da
Praça D. Dinis dariam ao espaço um carácter bastante diferente do que existe.
Finalmente a Rua é representada na actualidade (2010). A informação
necessária para esta investigação foi recolhida em livros, mas também em processos
de arquivo, desenhos e até pela observação directa no local. Também foram
pedidos esclarecimentos adicionais a alguns autores como Jorge Alarcão e
António Pimentel. O registo fotográfico do livro A Velha Alta... desaparecida
foi de extrema importância, não só para a reconstituição da Rua
na data de 1934, pois também dá pistas para épocas anteriores». In Rúben
Neves Silva Vilas Boas, A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à Actualidade,
Mestrado em Arquitectura, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Coimbra, 2010.
Cortesia
da UCoimbra/JDACT