sábado, 9 de agosto de 2014

Mulher de Ferro. D. Brites (Beatriz). 1429-1506. Maria Odete Martins. «… três rubis barrocos e dois diamantes de pontas finas; uma safira muyto gramde encastoada em ouro; um anel de ouro grande com uma safira azul; um anel de ouro com uma safira branca e olho-de-gato; um anel pequeno com um diamante…»

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Duquesa de Viseu e duquesa de Beja. Uma rica e poderosa dona
«(…) Para o lado da rua dos Infantes ficavam as residências dos moradores. No quintal, plantado de árvores, localizavam-se as necessárias. Se são escassos os elementos de descrição externa do edifício, o que dizer do seu interior para o qual dispomos apenas do auxílio de dois documentos: o que refere o enxoval da infanta e as disposições testamentárias da mesma, que seu filho Manuel I faria executar? Tentemos, ainda assim, entrar no palácio.
Sobre o pavimento, revestido de azulejos valencianos, avultariam as alcatifas, vindas de Castela e do Levante. As paredes deveriam ser total ou parcialmente cobertas por panos de rás (de que D. Brites levara doze, por ocasião do casamento), de dimensão e lavor variado, reflectindo a opulência da casa. Os mais pequenos representavam apenas uma figura, como, por exemplo, um rei detendo na mão o ceptro; outros narravam a história dos profetas. Face à abundância dos cercamentos de câmara, provavelmente de acordo com a dependência, e porventura com a ocasião, assim se colocariam os de cetim azul com esteios de veludo carmesim, os de damasquim pardo ou os de sarja. De entre o mobiliário avultavam as arcas, de primordial importância no acervo de uma casa pela multiplicidade de funções que ofereciam. Nelas se se aconchegavam os objectos de adorno, as peças de indumentária, se guardavam as roupas de casa, os livros, a loiça, mas poderiam igualmente servir de leito, como bem notou Oliveira Marques. A infanta dispunha de setenta e nove. Havia também os cofres: em âmbar, marchetados de marfim, provenientes da Alemanha, da Flandres, de Aragão, de Pisa, onde D. Brites guardaria as muitas jóias de que dispunha, como, por exemplo: uma vieira de ouro; dois negros de ouro; um firmal de ouro com uma figura de donzela esmaltada; um anel de sinete; uma mãozinha de ouro cheia de âmbar; uma cadeia com duas pontas de ouro e esmalte preto; uma lancinha de ouro com uma bandeira e as armas de Castela, sobre esmaltes e ferro de prata; uma língua de escorpião encastoada, em ouro, em forma de faixa com dois escudos das armas de Castela, também de ouro e esmaltados; um escudo das armas de Portugal, de ouro, esmaltado, encimado pela respectiva coroa em que brilhavam três rubis barrocos e dois diamantes de pontas finas; uma safira muyto gramde encastoada em ouro; um anel de ouro grande com uma safira azul; um anel de ouro com uma safira branca e olho-de-gato; um anel pequeno com um diamante; cinco diamantes soltos; cinco esmeraldas; seis safiras grandes, das quais quatro encastoadas em ouro; oito rubis grandes encastoados em ouro; dois castões de ouro, um deles esmaltado de branco; cinco amuletos, três de pérolas e dois de ouro; um castão de ouro, esmaltado, contendo uma pérola; dezoito rubis pequenos; dezasseis safiras; três botões de ouro, cheios de âmbar; uma sobrecopa de ouro, com esmaltes verdes e brancos, em forma de tenda, em que em torno da franja brilhavam seis rubis barrocos, encastoados em ouro, uma safira, também encastoada, entremeadas de pérolas, sendo o conjunto encimado por uma safira grande, três rubis barrocos e três pérolas pendentes entre os rubis e à porta da tenda apresentava-se uma figura de donzela com um rubi barroco na mão; cinco cordões, um de quarenta e cinco corais, outro de cinquenta corais, longos e grossos, com as extremidades de ouro cobertas de âmbar; um outro de contas cobertas de âmbar, com pontas de prata; um quarto, longo, de contas de âmbar e por fim o quinto composto por sessenta corais pequenos e longos, com sete extremidades de ouro. Relativamente às roupas de cama abundavam as colchas da Bretanha, as almofadas, os lençóis da Holanda, os cobertores de grã-vermelha, de Londres e de papa». In Maria Odete Sequeira Martins, D. Brites (Beatriz). 1429-1506, Mulher de Ferro, Quidnovi, 2011, Via do Conde, ISBN 978-989-554-789-0.

Cortesia de Quidnovi/JDACT