Duquesa de Viseu e duquesa de Beja. Uma rica e poderosa dona
«(…) Para o lado da rua dos Infantes ficavam as residências dos moradores. No quintal, plantado de
árvores, localizavam-se as necessárias. Se são escassos os elementos de
descrição externa do edifício, o que dizer do seu interior para o qual dispomos
apenas do auxílio de dois documentos: o que refere o enxoval da infanta e as disposições testamentárias da mesma, que
seu filho Manuel I faria executar? Tentemos, ainda assim, entrar no
palácio.
Sobre o pavimento, revestido de azulejos valencianos, avultariam as alcatifas,
vindas de Castela e do Levante. As paredes deveriam ser total ou parcialmente
cobertas por panos de rás (de que D. Brites levara doze, por ocasião do
casamento), de dimensão e lavor variado, reflectindo a opulência da casa.
Os mais pequenos representavam apenas uma figura, como, por exemplo, um rei
detendo na mão o ceptro; outros narravam a história dos profetas. Face à
abundância dos cercamentos de câmara,
provavelmente de acordo com a dependência, e porventura com a ocasião, assim se
colocariam os de cetim azul com esteios de veludo carmesim, os de damasquim
pardo ou os de sarja. De entre o mobiliário avultavam as arcas, de primordial
importância no acervo de uma casa pela multiplicidade de funções que ofereciam.
Nelas se se aconchegavam os objectos de adorno, as peças de indumentária, se
guardavam as roupas de casa, os livros, a loiça, mas poderiam igualmente servir
de leito, como bem notou Oliveira Marques. A infanta dispunha de setenta
e nove. Havia também os cofres: em âmbar, marchetados de marfim, provenientes
da Alemanha, da Flandres, de Aragão, de Pisa, onde D. Brites guardaria as
muitas jóias de que dispunha, como, por exemplo: uma vieira de ouro; dois
negros de ouro; um firmal de ouro com uma figura de donzela esmaltada; um anel
de sinete; uma mãozinha de ouro cheia de âmbar; uma cadeia com duas pontas de
ouro e esmalte preto; uma lancinha de ouro com uma bandeira e as armas de
Castela, sobre esmaltes e ferro de prata; uma língua de escorpião encastoada,
em ouro, em forma de faixa com dois escudos das armas de Castela, também de
ouro e esmaltados; um escudo das armas de Portugal, de ouro, esmaltado,
encimado pela respectiva coroa em que brilhavam três rubis barrocos e dois
diamantes de pontas finas; uma safira muyto gramde encastoada em ouro; um
anel de ouro grande com uma safira azul; um anel de ouro com uma safira branca e
olho-de-gato; um anel pequeno com um diamante; cinco diamantes soltos; cinco
esmeraldas; seis safiras grandes, das quais quatro encastoadas em ouro; oito
rubis grandes encastoados em ouro; dois castões de ouro, um deles esmaltado de
branco; cinco amuletos, três de pérolas e dois de ouro; um castão de ouro,
esmaltado, contendo uma pérola; dezoito rubis pequenos; dezasseis safiras; três
botões de ouro, cheios de âmbar; uma sobrecopa de ouro, com esmaltes verdes e
brancos, em forma de tenda, em que em torno da franja brilhavam seis rubis
barrocos, encastoados em ouro, uma safira, também encastoada, entremeadas de pérolas,
sendo o conjunto encimado por uma safira grande, três rubis barrocos e três
pérolas pendentes entre os rubis e à porta da tenda apresentava-se uma figura
de donzela com um rubi barroco na mão; cinco cordões, um de quarenta e cinco
corais, outro de cinquenta corais, longos e grossos, com as extremidades de
ouro cobertas de âmbar; um outro de contas cobertas de âmbar, com pontas de
prata; um quarto, longo, de contas de âmbar e por fim o quinto composto por
sessenta corais pequenos e longos, com sete extremidades de ouro. Relativamente
às roupas de cama abundavam as colchas da Bretanha, as almofadas, os lençóis da
Holanda, os cobertores de grã-vermelha, de Londres e de papa». In
Maria Odete Sequeira Martins, D. Brites (Beatriz). 1429-1506, Mulher de Ferro,
Quidnovi, 2011, Via do Conde, ISBN 978-989-554-789-0.
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