Alexandre III
«(…) Além dos conventos e casas das ordens, também as catedrais
eram alcançadas pela mão ordenadora do pape. Este incumbia o arcebispo João
Peculiar de Braga de dar um estatuto ao seu cabido e de regular a divisão dos
rendimentos entre o arcebispo e o cabido, e quando em Lisboa a eleição do bispo
Álvaro foi de seguida combatida, Alexandre III investiu-o do novo no cargo. Várias
vezes se dirigiram ao papa a pedir julgamento de litígios eclesiásticos; nós
conhecemos três bulas referentes a diferenças entre o bispo de Coimbra e os
cónegos de Santa Cruz, e um rescrito dirigido a Afonso Henriques por causa do
dízimo dos cavaleiros de Santiago e Calatrava. Se é verdade que o número de
diplomas de Alexandre III a favor de Portugal fica muitas vezes aquém dos passados
a favor das outras terras da Península, mesmo assim também em Portugal a troca
de correspondência com a Cúria, que anteriormente só se dava quando se tratava
de acções políticas especiais, se tornou coisa vulgar.
Ao lado da correspondência por escrito vinha a missão de
legados ou núncios. Provocavam-no em primeiro lugar já as necessidades da
administração financeira papal, sobre a qual naquele tempo em geral pouco
sabemos, mas precisamente e casualmente em Portugal encontra-se algum material
a tal respeito. Alexandre III foi certamente o primeiro papa, que mandou
enviados próprios a Espanha, para fazer colecta de dinheiros; já nomeamos o
subdiácono Teodino, e no ano 1168
veio também um Magister Petrus a
Coimbra, colher o censo para a Cúria. Ambos os legados, assim se chamavam então,
apesar de não serem cardeais, porém, não se limitaram a cobrar os tributos, mas
foram também chamados para resolver pleitos eclesiásticos. O direito de dar
sentenças, não o possuíam eles certamente, porque só os cardeais-legados tinham
competência de juiz. Um tal mandou agora Alexandre III no ano de 1172 a Espanha na pessoa de Jacinto, o
já nosso conhecido cardeal-diácono de Santa Maria de Cosmedin, que assim pela
segunda vez visitava a Península.
Em Portugal encontrava-se ele em Janeiro e Fevereiro de 1173, e a sua presença deixou no país
vestígios abundantes. Em Coimbra visitou ele também desta vez, a, Igreja de
Santa Cruz, passou um diploma a seu favor e recebeu o tributo de protecção papal.
Depois esteve na companhia do rei Afonso Henriques em Braga onde solucionou
vários litígios; aí concedeu privilégio ao convento de freiras de Tuias, provavelmente
foi este o único privilégio que um convento beneditino português recebeu no
século XII, porque os restantes conventos desta ordem em Portugal consideravam,
tanto quanto sabemos, que não era conveniente requerer privilégios papais,
atendendo à sua pobreza. O principal fim da legacia de Jacinto foi, porém,
ainda desta vez, de natureza política. Tratava-se ainda do litígio entre
Portugal por um lado e Leão e Castela por outro; ou exprimindo-nos
eclesiasticamente: tratava-se do litígio de Braga com Santiago, por um lado, e
com Toledo por outro. Temos de recuar uns anos para compreender isto.
Afonso Henriques não tinha descansado depois da conquista de
Lisboa, mas antes, combatendo constantemente contra os muçulmanos, havia quase
duplicado o seu território. Em 1166 caiu nas suas mãos Évora, capital do Alentejo,
sede tradicional dum bispado. O rei mandou ocupar imediatamente a sé episcopal
o sagrar pelo arcebispo de Braga o bispo eleito Sueiro. Desejava naturalmente
que Évora fosse bispado sufragâneo de Braga». In Carl Erdmann, O Papado e
Portugal no primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra,
Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.
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