Os domínios do mistério prometem as mais
belas experiências.
In
Einstein
«A
todos os filósofos, às gentes instruídas quaisquer que sejam, aos sábios
especializados e aos simples observadores, permitimo-nos fazer esta pergunta: Por acaso já reflectistes nas
consequências fatais que resultarão dum progresso ilimitado? Já por
causa da multiplicidade de conquistas científicas, o Homem só consegue viver à
custa de energia e de resistência, num ambiente de actividade trepidante,
febril e malsã. Criou a máquina que centuplicou os seus meios e o seu poder de
acção, mas tornou-se escravo e vítima dela: escravo durante a paz, vítima
durante a guerra. A distância deixou de ser obstáculo para ele; transporta-se com
rapidez dum ponto a outro do Globo, por via aérea, marítima e terrestre. Não vemos,
porém, estas facilidades de deslocação tornarem-no melhor ou mais feliz; pois
se o adágio pretende que as viagens formam a juventude, não parece que
contribuam para fortalecer os laços de concórdia e fraternidade que deviam unir
os povos. Nunca as fronteiras foram mais guardadas do que hoje. O Homem possui
a maravilhosa faculdade de exprimir o seu pensamento e de fazer ouvir a sua voz
até às mais longínquas regiões; e, no entanto, esses mesmos meios impõem-lhe
novas necessidades. Pode emitir e registar as vibrações luminosas e sonoras,
sem com isso ganhar mais do que uma vã satisfação de curiosidade, senão uma
sujeição pouco favorável à sua elevação intelectual. Os corpos opacos
tornaram-se permeáveis a seu olhar, e, se lhe é possível sondar a matéria
grave, em compensação que sabe ele de si mesmo, quer dizer da sua origem, da sua essência e do seu destino? Aos
desejos satisfeitos sucedem outros desejos insaciados. Insistimos nisto: o
Homem quer andar depressa, cada vez mais depressa, e esta agitação torna
insuficientes as possibilidades de que ele dispõe. Arrebatado pelas suas
paixões, as suas cobiças e as suas fobias, o horizonte das suas esperanças
recua indefinidamente. É a doida corrida para o abismo, a constante usura, a actividade
impaciente, furiosa, aplicada sem trégua nem repouso. Na nossa época, disse com inteira justeza Júlio Simon, temos de
caminhar ou correr: quem pára está perdido. Com esta cadência, com este regime,
a saúde física periga. Apesar da difusão e observação das regras de higiene, de
medidas profilácticas, a despeito de inumeráveis processos terapêuticos e da
acumulação de drogas químicas, a doença prossegue nos seus estragos com incansável
perseverança. E, por sinal, a luta organizada contra os flagelos conhecidos
parece ter só como resultado fazer dali surgir outros, novos, mais graves e mais refractários.
A
própria natureza dá inequívocas notícias de cansaço: torna-se preguiçosa. À
força de adubos químicos, o agricultor obtém agora colheitas de valor mediano.
Interroguem um camponês e ele dirá que a
terra está a morrer, que as estações andam trocadas e que mudou o clima.
Tudo o que vegeta sofre de falta de seiva e de resistência. As plantas definham,
é um facto verificado oficialmente, e mostram-se incapazes de reagir contra a
invasão dos insectos parasitas ou o ataque das doenças de micélio. Enfim, não
damos novidade alguma ao dizer que a maior parte das descobertas, orientadas de
começo para o acréscimo do bem-estar humano, são rapidamente desviadas da sua
finalidade e aplicadas especialmente na destruição. Os instrumentos de paz mudam-se
em engenhos de guerra e bem se conhece o papel preponderante que a ciência desempenha
nas conflagrações modernas. Tal é, ai de nós!, o objectivo final, o resultado
da investigação científica; e tal é também a razão pela qual o homem que a prossegue
com esta intenção criminosa invoca sobre si a justiça divina e se vê
necessariamente condenado por ela. A fim de evitar a acusação (que, apesar
disso, lhes foi feita) de perverter os povos, os Filósofos recusaram-se sempre
a ensinar claramente as verdades que tinham adquirido ou recebido da antiguidade.
Bernardino de Saint-Pierre mostra conhecer esta regra de sabedoria quando
declara, ao fim da Chaumière Indienne
(Cabana Indiana): Deve-se procurar
a verdade com um coração simples; será encontrada na natureza; não se deve
dizê-la senão à gente de bem. Por ignorância ou desprezo desta condição
prévia, o exoterismo lançou a desordem no seio da humanidade». In Fulcanelli,
1930, Les Demeures Philosophales, 1965, As Mansões Filosofais, colecção
Esfinge, Edições 70, Lisboa, 1977.
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