«A
noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me
os amigos
tenho
o coração confundido e a rua é estreita
estreita
em cada passo
as
casas engolem-nos
sumimo-nos
estou
num quarto só num quarto só
com
os sonhos trocados
com
toda a vida às avessas a arder num quarto só.
Sou
um funcionário apagado
um
funcionário triste
a minha
alma não acompanha a minha mão.
Débito
e crédito, débito e crédito
a
minha alma não dança com os números
tento
escondê-la envergonhado
o
chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do
quintal
em frente
e
debitou-me na minha conta de empregado.
Sou
um funcionário cansado dum dia exemplar.
Porque
não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque
me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro
velhas palavras generosas.
Flor
rapariga amigo menino
irmão
beijo namorada
mãe
estrela música.
São
as palavas cruzadas do meu sonho
palavras
soterradas na prisão da minha vida.
Isso
todas as noites do mundo uma noite só comprida
num
quarto só».
JDACT