Os
Poetas dos Cancioneiros. Séculos XII a XVI
Rei
Sancho I
«El-Rei
Sancho I nasceu em 1159 e morreu em 1211. É, portanto, um dos nossos mais
antigos trovadores, a ser seu, como parece averiguado, o Cantar de amigo. Tal é a
opinião de Carolina Michaëlis, que o supõe composto pelo rei para a sua célebre
amante Maria Pais Ribeiro.
Cantar
de Amigo
«Ai
eu coitada!
Como
vivo en gram cuidado
por
meu amigo
que
ei alongado!
Muito
me tarda
o
meu amigo na Guarda!
Ai
eu coitada!
Como
vivo en gram desejo
por
meu amigo
que
tarda e non vejo!
Muito
me tarda
o
meu amigo na Guarda!»
João
Garcia de Guilhade
Foi
um simples cavaleiro-vilão na opinião de Rodrigues Lapa, e cavaleiro de pequena
nobreza na de Carolina Michaëlis. Não há datas precisas sobre a sua biografia. Parece
ter levado a vida de soldado, e ser português, chamando-se Guilhade não de qualquer localidade galega, mas dum dos lugares
portugueses com o mesmo nome. Terçou armas, poeticamente, com o fidalgo João
Soares Coelho, num litígio célebre. O fidalgo o amesquinhou por vilão, sem
contudo, o vencer como trovador. É um dos nossos mais fecundos e originais
poetas do século XIII, distinguindo-se, quer nas cantigas de amor, quer nas de amigo,
quer nas de escárnio ou maldizer pela
sua agilidade técnica e a vivacidade do seu espírito.
Cantiga
de Amigo
«Quer’eu,
amigas, o mundo loar
por
quanto bem mi nostro Senhor fez:
fez-me
fremosa e de mui bom prez,
ar
faz-mi meu amigo muit’amar:
aqueste
mundo x’est a malhor ren
das
que Deus fez a quen el i faz bem.
O paraíso
bõo x’é’de pran,
ca
o fez Deus, e non digu’eu de non,
mai-los
amigos, que no mundo son,
e
amigas muit’ambos lezer na:
aqueste
mundo x’est a melhor ren
das
que Deus fez a quen el i faz bem.
Querria-m’eu
o parais’aver,
des
que morresse, ben come quen quer,
mais,
poi-la dona seu amig’oer
com
el pode no mundo viver,
aqueste
mundo x’est a melhor ren
das
que Deus fez a quen el i faz bem.
E quem
aquesto non tever por ben
já
nunca lhi Deus dê en ele ren».
Cantiga
de Amor
«Vy
oj’eu donas muy bem parecer
e
de muy bom prez e de muy bom sen
e
muyt’amigas son de todo ben,
mays
d’üa moça vos quero dizer:
de
parecer venceu quantas achou
hüa
moça que x’agora chegou.
Cuydava-m’eu
que non avyam par
de
parecer as donas que eu vi,
attan
ben me parecian ali,
mays,
poi’la moça filhou seu loguar,
de
parecer venceu quantas acou
hüa
moça que x’ agora chegou.
Que
feramente as todas venceu
a
mocelinha en pouca sazon!
De
parecer todas vençudas son!
Mays,
poy’la moça hi pareceu,
de
parecer venceu quantas achou
hüa
moça que x’agora chegou».
In
José Régio, Líricas Portuguesas, 1ª Série, Selecção, Prefácio, Notas,
Portugália Editora, Lisboa, 1959.
Cortesia
Portugália/JDACT