quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à Actualidade. Rúben Vilas Boas. «… as casas medievais em Coimbra: com um ou mais andares, com quintais, escadas exteriores e pisos parcialmente ou totalmente sobradados, sobre arcos, esteios ou colunas»


Casa medieval, Baixa de Coimbra. Casas medievais imaginárias por JorgeAlarcao
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A Cidade Medieval
«(…) Sobre o espaço em frente aos Estudos Gerais, alguns autores, sem referir dados concretos afirmam que, na segunda metade do século XIII, era conhecido por mouraria. Porém Walter Rossa, constata que depois da conquista definitiva da cidade pelos cristãos, a relação destes com os muçulmanos era pacífica, sendo pouco provável que houvesse segregação. Além disso, as mourarias ou as judiarias localizavam-se em locais mais periféricos e menos atractivos. Por outro lado, Jorge Alarcão desmente o facto, de que também no século XIII, tenha havido uma mouraria perto da Igreja de S. Cristóvão. Os documentos não se referem a uma mauraria, de mouros, mas sim a uma moraria, ou seja um local com amoreiras, pelo que possa ter havido alguma confusão neste sentido. Assim, mas sem grandes certezas, põe-se a hipótese de o local, que se chamava Alameda de S. Paulo, aquando da existência do colégio com esse nome, fosse já um espaço aberto, como era comum existir perto das alcáçovas, como local de manifestações comerciais, quem sabe com presença de amoreiras.
Resta também, imaginar como seria o tecido urbano à data. Nos documentos de reconstituição, desenhou-se um hipotético traçado para a rua que ligava o Castelo ao Palácio Real (futuramente Rua Larga), tendo em conta que talvez fosse mais estreita e menos rectilínea. Todavia, a densidade urbana não seria tão grande como na agitada Baixa da cidade. A Rua seria obviamente cortada por outras, mas é difícil saber onde, à excepção de um eixo que ligava as igrejas de S. João de Almedina e S. Pedro, com possíveis origens romanas. Quanto às habitações nas cidades medievais, elas eram construídas em pedra e cal, madeira, adobe e outros. Era frequente terem um ou mais andares com sacada, projectando-se sobre a rua. Por vezes havia nas traseiras das casa pátios e jardins onde se encontravam animais domésticos como a galinha e o porco. Em Coimbra, na Baixa, subsiste ainda hoje um exemplo de habitação medieval. Apesar de ser do século XV dá uma ideia de como poderiam ser as casas desta época. A casa é elevada através da sobreposição de um sobrado e obedece a princípios básicos de abrigo e armazenamento. Com pés-direitos reduzidos, no rés-do-chão fica a loja, e a habitação em si, nos andares superiores. As paredes erguem-se em enxaimel, a cobertura é de telha, e as aberturas são em número diminuto. Jorge Alarcão e também Luísa Trindade dão exemplos de como podiam ter sido as casas medievais em Coimbra: com um ou mais andares, com quintais, escadas exteriores e pisos parcialmente ou totalmente sobradados, sobre arcos, esteios ou colunas. Era possível que, nesta altura ainda se pudesse observar restos do aqueduto romano, sobre o qual se viria a erguer o Aqueduto de S. Sebastião.

Os Colégios Universitários
Nesta época, certamente já designado como Rua Larga, o eixo teria praticamente estabelecida a estrutura que apresentará até a Alta ser arrasada pelo Estado Novo. As alterações a nível urbanístico consumadas no reinado de João III, no século XVI, decorrentes da construção de casas para os escolares e do desígnio de edificação de um edifício próprio para a Universidade, terão conferido à Alta de Coimbra um novo traçado urbano, mais regularizado. Contudo, foi através da sucessiva implantação de Colégios Universitários, também no século XVII, que a malha urbana se consubstanciou, e a Rua Larga aumentou a sua área de influência. No âmbito do povoamento da Alta Universitária, a Rua Larga acabou por desempenhar o seu papel estruturador natural, sendo cruzada por dois eixos paralelos. Um formado pelas ruas de S. Pedro e S. João, o outro, composto pelas ruas dos Lóios e do Borralho, terá sido resultante de dois propósitos de fundo urbanístico: a implantação segundo uma paralela ao primeiro e o rigoroso enfiamento a partir do centro da principal fachada da quadratura das escolas (projecto não concretizado, situado em parte no local onde se edificou o Colégio de Jesus). Terá sido atribuída a várias ruas, abertas, ou ajustadas nesta altura, como por exemplo a Rua dos Estudos, a largura de 30 palmos. Já à Rua Larga concedeu-se 45 palmos, estando assim justificada e apropriada a sua designação». In Rúben Neves Silva Vilas Boas, A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à Actualidade, Mestrado em Arquitectura, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Coimbra, 2010.

Cortesia da UCoimbra/JDACT