Actores
e Interesses
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Desde a paz com a Espanha, em 1668,
que o problema mais grave para Portugal, residia na sua situação económica, por
um lado devido a uma estratégia económica desenvolvida pelos espanhóis, no
sentido de bloquearem o comércio português com os países europeus e, por outro lado,
devido às cedências feitas à Inglaterra e à Holanda. Concorrentemente, as
questões da colónia de Sacramento,
(no actual Uruguai) do tráfego com o Brasil e mesmo com a Índia,
constituíam um eixo fundamental, senão mesmo vital, da economia internacional
Portuguesa. Era então do mar dos negócios
que se podiam esperar compensações e auxílios para Portugal enfrentar quaisquer
investidas continentais, quer por parte da França, Quer por parte da Espanha. Para
Portugal, a união possível da Espanha ao poderio francês constituía a repetição
da situação estratégica em que tinha perdido a independência, em 1580, e daí a inevitabilidade da nossa
participação militar na guerra da Sucessão de Espanha, independentemente
de uma postura inicialmente neutral.
As
prioridades portuguesas, relativamente ao comércio colonial e à sua segurança,
ainda sem envolvimento directo na luta pela sucessão do trono espanhol, levaram
Pedro II (regente e rei entre 1667 e 1706), secundado pelo seu
ministro Cadaval, e influenciado pela existência, na Corte, de um activo e
influente partido francês, a optar inicialmente pela França, julgando ser a melhor
maneira de conter politicamente a Espanha. Não se estranhe a situação
conjuntural, pois até Guilherme III de Inglaterra, em 17 de Abril de 1701, reconhecera Filipe V de Espanha. Com
esta opção inicial pela França em que foi reconhecida a realeza de Filipe V, a
18 de Junho de 1701, em troca da cedência
de terras a norte do Amazonas, Portugal perdia o seu estatuto de neutralidade e
ratificava uma aliança com a França, datada de Outubro de 1700, colocando-se discutivelmente e sem qualquer sentido geopolítico,
em oposição aos tradicionais aliados marítimos. A dualidade de interesses
políticos e culturais confundia facilmente os portugueses, que só dificilmente
entendiam as alianças, a não ser que a Espanha estivesse explicitamente do lado
oposto; segundo Veríssimo Serrão, a França,
constituiu para os Portugueses do tempo, a grande escola da cultura e da
civilidade, pelo que se defendia tudo o que viesse daquele país, mesmo que
fosse contrário ao espírito nacional.
Mais
tarde, e numa manobra diplomática magistral, com a participação activa de José
Cunha Brochado em Paris, deu-se uma reviravolta estratégica, onde as primeiras derrotas
dos franceses em Itália e no Reno e a ameaça da frota inglesa às costas de
Espanha, terão também contribuído como elementos de pressão. Pedro II, depois
de ter solicitado os socorros estipulados na aliança com a França, que lhe
foram recusados por impossibilidade, considerou nulos os tratados, e passou, de
novo, a uma situação de neutralidade, altura que aproveitou para se rearmar e
ganhar poder negocial relativamente à Inglaterra. Apesar de pressionado pela
Grande Aliança, Pedro II ponderava a nova aliança, lembrando-se dos sacrifícios
impostos pela Restauração, da situação económica desfavorável e das consequências
para Portugal de uma nova guerra aqui tão
perto, como lhe lembrava o seu diplomata em Londres, Luís Cunha». In
João Vieira Borges, Conquista de Madrid, 1706, Batalhas de Portugal, Tribuna da
História, Lisboa, 2003, ISBN 972-8799-08-X.
Cortesia
de Tribuna/JDACT