«(…)
Muitas outras transformações se produziram, devidas à necessidade de constituir
grupos humanos cada vez maiores para vencer, em trabalho conjunto, a batalha
contra a natureza adversa. A sexualidade teve de ser reprimida, no interesse da
sociedade, não só para conservação das forças para o trabalho como também para
permitir a entrada duma parte do amor nas ligações entre grupos. A realização
de todos os desejos sexuais e de amor numa ligação dum casal ou no seio da
família intimamente unida não deixava que houvesse qualquer interesse numa
comunidade alargada. Esta é a motivação última do tabu do incesto: a criança em desenvolvimento é obrigada a
renunciar ao amor pecaminoso por pais e irmãos, a desligar-se da família e a
contrair ligações com estranhos. Isto é tanto mais difícil para ela quanto mais
tempo tiver dependido da assistência e do amor da família paterna. As
experiências deste amor, bem como a sua proibição influenciam todas as
expectativas posteriores do amor. As condições que a constituição física do
homem, a sua longa infância e a sua integração em grandes comunidades impuseram
à sua sexualidade, limitando esta mesma sexualidade, embora a alarguem simultaneamente
ao domínio espiritual, a condução ao erotismo. Na verdade, o erotismo deriva
das inibições, e está intrinsecamente de acordo com elas, embora ao mesmo tempo
as ultrapasse. Como produto da civilização, o erotismo pode, na verdade,
ascender à mais alta espiritualidade, mas pode igualmente degenerar em
decadência e perversão.
Devido
às estreitas relações entre a sexualidade genital e outros prazeres dos sentidos,
por um lado, e por outro lado aos instintos físicos da sexualidade no seu
conjunto para o erotismo e o amor, Sigmund Freud alargou, na psicanálise, o
conceito de sexualidade a todos estes
aspectos. O conceito psicanalítico líbido
corresponde tanto ao desejo de prazer dos sentidos como ao desejo de amor no
sentido de entrega e protecção. Todas as formas de amor, incluindo o dos pais,
dos filho, por animais e por Deus são encaradas como derivantes e sublimações
do amor sexual. Este concepção deriva, entre outros motivos, da experiência que
todas estas formas de amor, aparentemente afastadas da sexualidade, podem
transformar-se novamente em sexualidade, sob a forma de fenómenos de
feiticismo. No seu conjunto, a sexualidade, o erotismo e o amor constituem um
domínio que não pode separar-se da totalidade da vida. Em todas as
manifestações da vida humana vibra a força de Eros, e Eros é influenciado por
todas as outras circunstâncias da vida. Estas são as razões pelas quais no
nosso Léxico do Erótico se discutem tanto os factos fundamentais da sexualidade
como as influências da civilização e da sociedade. Algumas gravuras são
frequentemente menos ilustrações dos títulos do que variações do respectivo
tema. São de várias épocas e mostram o significado, basicamente inalterado, do
amor sexual. O modo como os diversos pintores e desenhadores explicaram, artisticamente,
os problemas da sexualidade humana constitui em si mesmo um exemplo da
espiritualização do erotismo». In Ludwig Knoll e Gerhard Jaeckel, 1976,
Sexualidade, Erotismo e Amor, Livraria Bertrand, Círculo de Leitores, Oficinas
Gráficas da Livraria Bertrand, 1981.
Cortesia
de LBertrand/JDACT