Busca
«Se
algum dia pudesses saber
o
que a vida, na rocha, gravou
quando
o vento, num dos seus caprichos,
no
teu caminho
meus
passos guiou.
Só
o mar, ao longe,
com
ondas suaves
num
véu de espuma
enrolando
na areia,
só
ele me viu,
quando
eu, sozinha,
mostrava
a mão a uma gentil sereia.
E
ela, dona do saber dos tempos,
olhou
o céu e o mar sem fim
fitou-me
o rosto,
pegou-me
na mão.
E,
com doçura, falou-me assim:
já percorreste um longo caminho
e já caíste no pó da calçada,
mas a coragem de que te vestiste
sempre aplainou
tua longa estrada.
Tens
força firme na tua mão pequena,
e
grande força para caminhar,
no
chão da vida,
desta
agreste arena,
no
céu azul tens que procurar.
Procura
bem ao longo do dia,
desfolha
os tempos
sem
te fatigar,
prossegue
a busca
neste
sol sem medo,
procura
sempre, até encontrar.
Há
uma alma
semelhante
à tua
muito
p’ra lá deste longo mar
e
não te percas, nesta vida dura,
e
não te esqueças de a procurar.
E
ela sofre, louca, à tua espera
e
ela anseia que a vás buscar.
Não
te percas por esses caminhos,
não
te distraias com coisas banais,
é
muito longo o tempo da espera,
e
muito sofre quem espera demais.
E
de repente
ao
voltar a lua
esta
visão que o tempo alonga
voltou
ao mar,
mergulhou
na espuma,
e
engolida por uma alta onda.
Mais
uma vez eu fiquei sozinha,
acompanhada
da solidão,
mas
uma luz para mim caminha
e
lá de longe me estende a mão.
Parto
à procura da promessa linda,
que
a sereia acaba de ditar
e
com coragem
e
passo firme ainda
vou
correr mundo até te encontrar.
Poema
de Maria Mar de Carvalho, in ‘Lágrimas de Ametista’, 1 de Fevereiro de 1989
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