terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Paradoxo. Progresso Ilimitado das Ciências. Fulcanelli. «O dilúvio moisaico teve a mesma irnportância, a mesma extensão, as mesmas repercussões que todas as inundações que o precederam. É, de algum modo, a descrição típica das catástrofes periódicas. […] de que Moisés tivera, sem dúvida, conhecimento»

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Os domínios do mistério prometem as mais belas experiências. In Einstein

O reino do homem
«(…) Pela nossa parte, que nunca nos prendemos com os argumentos do racionalismo, consideramos que o dilúvio moisaico é incontestável e real. Sabemos, aliás, quanto a Bíblia é superior aos outros livros, como ela continua a ser o Livro eterno, imutável, o Livro cíclico por excelência, onde, sob véu parabólico, a revelação da história humana está selada, aquém e mesmo além dos próprios anais dos povos. É, a narração in-extenso do périplo que cada grande geração cíclica executa. E, como a história é um perpétuo recomeço, a Bíblia que lhe descreve o processo figurado permanecerá para sempre como a única fonte, a autêntica compilação dos acontecimentos históricos e das revoluções humanas, tanto para os períodos transactos como para aqueles que se sucederão no porvir. A nossa intenção não é empreender aqui uma refutação dos argumentos com que os adversários da tradição de Moisés contestaram a exactidão do seu testemunho, nem fornecer aqueles pelos quais os defensores da religião revelada estabeleceram a autenticidade e a inspiração divina dos seus livros. Tentaremos só mostrar que o facto do dilúvio é confirmado pelas tradições particulares de todos os povos, tanto do antigo como do novo continente. Os livros sagrados dos Hindus e dos Iranianos fazem menção ao dilúvio. Na Índia, Noé chama-se Vaivaswata ou Satyavrata. As lendas gregas falam de Ogygés e de Deucalião; as da Caldeia, de Xixuthoros ou Sisuthoros; as da China, de Fo-Ri; as dos Peruanos, de Bochica. Segundo a cosmografia assírio,caldaica, os homens, criados por Marduk, tornaram-se maus e o conselho dos deuses resolveu puni-los. Um único homem é justo e, por isso, amado pelo deus Ea: trata-se de Utimapishtim, rei da Babilónia. Assim, Ea revela em sonho a Utmapishtim a vinda iminente do cataclismo e o meio de escapar à cólera dos deuses. O Noé babilónico constrói, pois, uma arca e ali se fecha com todos os seus, família, servidores, artistas construtores da nave e um rebanho inteiro de animais. Logo depois, as trevas invadem o céu. As águas do abismo tombam e cobrem a terra. A arca de Utmapishtim voga durante sete dias e detém-se enfim no topo duma montanha. O justo salvado larga uma pomba e uma andorinha, as quais voltam à barca, depois um corvo, que não regressa. Então, sai da arca e oferece um sacrifício aos deuses. Para os Astecas e outras tribos que habitavam no planalto do México, é Coxcox ou Tezpi que desem6renha o papel
do Noe bíblico...

NOTA: A arca fica retida no Monte Nisir, durante sete dias após o fim do dilúvio e antes do envio da pomba. Essa mesma arca fôra construída sob as instruções do deus Ea, tal como no relato moisaico. Ea, que significa casa das águas criara o homem, mesmo quando, surgindo o deus Marduk, essa criação é feita por meio de Marduk, filho de Ea. A história do dilúvio é classificada por Utmapishtin ou Utanapishitin ou Utanapishtin como uma palavra de mistério e um segredo dos deuses.

O dilúvio moisaico teve a mesma irnportância, a mesma extensão, as mesmas repercussões que todas as inundações que o precederam. É, de algum modo, a descrição típica das catástrofes periódicas provocadas pela mudança dos pólos. É, a interpretação esquematizada dos sucessivos dilúvios de que Moisés tivera, sem dúvida, conhecimento, quer fosse testemunha ocular dum deles, o que justificaria o seu próprio nome, quer o obtivesse por revelação divina. A arca salvadora parece-nos que representa o lugar geográfico onde se juntam os eleitos quando a grande perturbação se aproxima, em vez de uma nave fabricada pela mão do homem. Pela sua forma, a arca revela-se já como uma figura cíclica e não como um vaso (navio) verdadeiro. Num texto onde devemos, especialmente, segundo a palavra das Escrituras, considerar o espírito, de preferência à letra, é-nos impossível tomar em sentido literal a construção do navio, a procura de todos os animais puros e impuros e a sua reunião aos pares. Uma calamidade que impõe, durante dois séculos, a seres vivos e livres, condições tão diferentes de habitat, tão contrárias às suas necessidades, ultrapassa os limites da nossa razão. Não devemos esquecer que, durante toda a prova, o hemisfério, entregue ao afluxo das águas, está mergulhado na mais cornpleta obscuridade. Convém saber, que Moisés fala de dias cíclicos, cujo valor secreto equivale aos anos correntes. Precisemos: Está escrito que a chuva diluviana dura quarenta dias e que as águas cobrem a Terra durante cento e cinquenta dias, ou seja cento e noventa dias no total. Deus fez então soprar um vento quente, e o nível do lençol líquido desce. A arca aporta o monte Ararat, na Àrménia. Noé abre a janela, o regresso da luz e liberta um corvo que, retido pelos cadáveres, não volta. A seguir, Noé solta a pomba, que retorna logo à arca, pois nesse momento as árvores ainda estavam submersas. O patriarca aguarda, portanto, sete dias e faz sair outra vez a ave que regressa à tardinha trazendo um ramo verde de oliveira. O dilúvio acabara. Tinha durado cento e noventa e sete dias cíclicos ou, com diferença de três anos, dois séculos reais». In Fulcanelli, 1930, Les Demeures Philosophales, 1965, As Mansões Filosofais, colecção Esfinge, Edições 70, Lisboa, 1977.

Cortesia de E70/JDACT