Os domínios do mistério prometem as mais
belas experiências.
In
Einstein
O
reino do homem
«(…)
Pela nossa parte, que nunca nos prendemos com os argumentos do racionalismo,
consideramos que o dilúvio moisaico é incontestável e real. Sabemos, aliás,
quanto a Bíblia é superior aos outros livros, como ela continua a ser o Livro
eterno, imutável, o Livro cíclico
por excelência, onde, sob véu parabólico, a revelação da história humana está
selada, aquém e mesmo além dos próprios anais dos povos. É, a narração in-extenso do périplo que cada
grande geração cíclica executa.
E, como a história é um perpétuo recomeço, a Bíblia que lhe descreve o processo
figurado permanecerá para sempre como a única fonte, a autêntica compilação dos
acontecimentos históricos e das revoluções humanas, tanto para os períodos
transactos como para aqueles que se sucederão no porvir. A nossa intenção não é
empreender aqui uma refutação dos argumentos com que os adversários da tradição
de Moisés contestaram a exactidão do seu testemunho, nem fornecer aqueles pelos
quais os defensores da religião revelada estabeleceram a autenticidade e a
inspiração divina dos seus livros. Tentaremos só mostrar que o facto do dilúvio
é confirmado pelas tradições particulares de todos os povos, tanto do antigo
como do novo continente. Os livros sagrados dos Hindus e dos Iranianos fazem
menção ao dilúvio. Na Índia, Noé chama-se Vaivaswata ou Satyavrata.
As lendas gregas falam de Ogygés e de Deucalião; as da Caldeia, de
Xixuthoros ou Sisuthoros; as da China, de Fo-Ri; as dos Peruanos, de Bochica.
Segundo a cosmografia assírio,caldaica, os homens, criados por Marduk,
tornaram-se maus e o conselho dos deuses resolveu puni-los. Um único homem é
justo e, por isso, amado pelo deus Ea: trata-se de Utimapishtim,
rei da Babilónia. Assim, Ea revela em sonho a Utmapishtim a vinda iminente do
cataclismo e o meio de escapar à cólera dos deuses. O Noé babilónico constrói, pois,
uma arca e ali se fecha com todos os seus, família, servidores, artistas
construtores da nave e um rebanho inteiro de animais. Logo depois, as trevas invadem
o céu. As águas do abismo tombam e cobrem a terra. A arca de Utmapishtim voga durante sete dias e detém-se
enfim no topo duma montanha. O justo salvado larga uma pomba e uma andorinha,
as quais voltam à barca, depois um corvo, que não regressa. Então, sai da arca
e oferece um sacrifício aos deuses. Para
os Astecas e outras tribos que habitavam no planalto do México, é Coxcox ou
Tezpi que desem6renha o papel
do Noe bíblico...
NOTA: A arca fica retida no Monte Nisir,
durante sete dias após o fim do dilúvio e antes do envio da pomba. Essa mesma
arca fôra construída sob as instruções do deus Ea, tal como no relato moisaico.
Ea, que significa casa das águas criara o homem, mesmo quando, surgindo
o deus Marduk, essa criação é feita por meio de Marduk, filho de Ea. A história
do dilúvio é classificada por Utmapishtin ou Utanapishitin ou Utanapishtin como
uma palavra de mistério e um segredo dos deuses.
O
dilúvio moisaico teve a mesma irnportância, a mesma extensão, as mesmas
repercussões que todas as inundações que o precederam. É, de algum modo, a
descrição típica das catástrofes periódicas provocadas pela mudança dos pólos.
É, a interpretação esquematizada dos sucessivos dilúvios de que Moisés tivera,
sem dúvida, conhecimento, quer fosse testemunha ocular dum deles, o que justificaria
o seu próprio nome, quer o obtivesse por revelação divina. A arca salvadora
parece-nos que representa o lugar geográfico onde se juntam os eleitos quando a
grande perturbação se aproxima, em vez de uma nave fabricada pela mão do homem.
Pela sua forma, a arca revela-se já como uma figura cíclica e não como um vaso
(navio) verdadeiro. Num texto onde devemos, especialmente, segundo a
palavra das Escrituras, considerar o espírito, de preferência à letra, é-nos
impossível tomar em sentido literal a construção do navio, a procura de todos os animais puros e impuros e a sua
reunião aos pares. Uma calamidade que impõe, durante dois séculos, a seres vivos e livres, condições tão diferentes de habitat, tão contrárias às suas
necessidades, ultrapassa os limites da nossa razão. Não devemos esquecer que, durante
toda a prova, o hemisfério, entregue ao afluxo das águas, está mergulhado na
mais cornpleta obscuridade. Convém saber, que Moisés fala de dias cíclicos, cujo valor secreto
equivale aos anos correntes. Precisemos:
Está escrito que a chuva diluviana dura quarenta
dias e que as águas cobrem a Terra durante cento e cinquenta dias, ou seja cento
e noventa dias no total. Deus fez então soprar um vento quente, e o nível
do lençol líquido desce. A arca aporta o monte Ararat, na Àrménia. Noé
abre a janela, o regresso da luz e liberta um corvo que, retido pelos
cadáveres, não volta. A seguir, Noé solta a pomba, que retorna logo à arca,
pois nesse momento as árvores ainda estavam submersas. O patriarca aguarda,
portanto, sete dias e faz sair outra
vez a ave que regressa à tardinha trazendo um ramo verde de oliveira. O dilúvio
acabara. Tinha durado cento e noventa e
sete dias cíclicos ou, com diferença de três anos, dois séculos reais». In Fulcanelli, 1930, Les Demeures
Philosophales, 1965, As Mansões Filosofais, colecção Esfinge, Edições 70,
Lisboa, 1977.
Cortesia
de E70/JDACT