terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Estudos sobre a Ordem de Avis. Séculos XII-XV. Maria Cristina A. Cunha. «De um modo geral, os monarcas portugueses medievais consideraram que a Ordem de Avis estava ao seu serviço. E enquanto a reconquista foi um facto, a milícia respondeu como devia aos apelos dos reis…»

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O Capítulo Geral. Claveiro
«(…) Escolhido pelo Mestre pelo menos até 1397, o oficio de claveiro era tener las Ilaves desta Orden que se entiende la guarda del convento. No entanto, inicialmente, o seu papel podia ser comparado ao do celeireiro ou ecónomo de uma abadia, uma vez que era ele quem devia prover o convento de tudo o necessário. Situado logo após o Comendador-mor na hierarquia interna da Ordem, sentava-se por esse motivo a seu lado nos Capítulos Gerais, e substituía-o na sua ausência.

Comendadores
Não está ainda definida a data em que se dividiu a propriedade da Ordem de Avis em bens da Mesa Mestral, por um lado, e em comendas, por outro. Possivelmente esta separação terá ocorrido até ao fim do primeiro quartel do século XIII, cifrando-se em vinte o número de comendas referidas nos documentos desta centúria. Em princípio, cada cavaleiro só podia usufruir dos rendimentos de uma única comenda, a não ser que fosse manifesto que esta era insuficiente para o seu mantimento. Por morte de um comendador, era ao Mestre quem competia nomear um novo, que não podia ser noviço nem estranho à Ordem, e que a partir desse momento ficava responsável pela manutenção das propriedades da comenda. Os comendadores eram obrigados a construir e reparar os prédios que caíssem ou necessitassem de arranjo, podendo o Mestre castigar os que deixassem abandonados campos e vinhas.

Prior do Convento
Segundo as primeiras Formae vivendi, o Prior tinha como função celebrar missas e ouvir as confissões dos freires: assim sendo, era ele quem estava incumbido da orientação espiritual de todos os membros da Ordem. Tal como os abades cistercienses, o Prior podia usar as insígnias pontificais, e exercer funções semelhantes às dos Bispos, mas não podia intervir nos assuntos temporais sem autorização do Mestre, apesar de ser ele o encarregado de uma das chaves da caixa que continha as rendas que o ecónomo do convento arrecadava. Devia residir permanentemente no convento, de onde só podia sair com autorização do Mestre. Desconhecemos se teria como função o ensino dos freires. No século XV, era o Prior quem guardava a chave do armário que continha os livros que eram distribuídos no tempo da liçam.

Sacristão
Dignidade escolhida pelo Mestre, o sacristão do convento pode ser comparado ao tesoureiro das catedrais, pois tinha como obrigação guardar as relíquias, o ouro e a prata, bem como os ornamentos dedicados ao culto divino. Normalmente, era um cargo desempenhado por um freire clérigo.

Outros Cargos
A Ordem de Avis, à semelhança do que acontecia em Calatrava, tinha outros cargos, desempenhados quer por freires leigos quer clérigos: obreiro, celeireiro, ecónomo, enfermeiro, mordomo, vestiário, escrivão, etc., que surgem referidos na documentação dispersa da Ordem, e cujas funções seriam as equivalentes às existentes em outras instituições religiosas medievais.

Conclusão
De um modo geral, os monarcas portugueses medievais consideraram que a Ordem de Avis estava ao seu serviço. E enquanto a reconquista foi um facto, a milícia respondeu como devia aos apelos dos reis, enquanto aumentava, paulatina, mas firmemente, o seu património. Expulsos os mouros do território nacional (bem como do lado ocidental da Andaluzia, onde os cavaleiros de Avis também estiveram presentes), a Ordem vai procurar actuar politicamente, sobretudo no que respeita ao relacionamento com Castela, conseguindo desse modo assegurar a concessão de benesses por parte dos diferentes monarcas. Com uma força económica cada vez mais forte, e talvez com uma cada vez maior consciência da protecção que a filiação em Calatrava lhe proporcionava, a Ordem de Avis surge aos olhos dos nossos primeiros monarcas como uma instituição capaz de assegurar o relacionamento político-militar com a monarquia vizinha. Daí os esforços empreendidos pelos diferentes reis para a eximir da ligação a Calatrava e para exercer de uma forma cada vez mais apertada um controlo sobre a Ordem Militar de S. Bento de Avis.

A Ordem de Avis e a monarquia portuguesa até ao final do reinado de Dinis I
O estudo não pretende ser mais do que uma breve reflexão sobre as relações entre os monarcas portugueses e a Ordem de Avis até finais do primeiro quartel do século XIV. Se em ocasiões anteriores tivemos já oportunidade de dar a conhecer algumas sugestões que uma análise da documentação relativa àquela milícia nos proporcionou, cremos no entanto que o tema em causa carece ainda de uma abordagem que considere, no seu conjunto, o evoluir do relacionamento das duas instituições, Ordem e Monarquia». In Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto, 2009.

Cortesia da FL do Porto/JDACT