terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A Mensagem dos Construtores de Catedrais. Christian Jacq. «O apóstolo São Tomé, patrono dos Mestres de Obras, teria ido até ao reino do Prestes João para lhe construir um palácio segundo as regras do esquadro e do compasso. O imperador Manuel, ‘o Comneno’, no século XII, recebeu uma carta assinada pelo Prestes João»

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Do Tempo das Pirâmides ao Tempo das Catedrais. Viagens ou Comunhão de Espírito?
«(…) É certo que, quando várias comunidades de artesãos iniciados procuram a expressão material mais perfeita para representar um símbolo, acabam por descobrir uma iconografia semelhante ou, pelo menos, comparável. Fenómeno que é bem conhecido da ciência contemporânea, em que não é, raro que dois ou mais investigadores, em pontos diferentes do globo, chegam, sensivelmente ao mesmo tempo, a um mesmo resultado. Trata-se de uma transmissão inata no homem. A um trabalho iniciático correctamente desenvolvido numa comunidade operativa, artesanal ou monacal, corresponde uma criação artística similar, quer ela se chame templo ou catedral. Não devemos esquecer, entretanto, que os medievais viajavam imenso, nomeadamente em direcção ao Médio Oriente. Construtores, sábios, eclesiásticos procuraram desde muito cedo estabelecer contactos com outras culturas. Em 333, um aquitaniense anónimo redige um itinerário de Bordéus a Jerusalém, um guia, entre muitos outros para ir até à Terra Santa.
Em 765, Pepino, o Breve, envia uma embaixada ao califa Al-Mansur, que regressa três anos depois à Europa com dignitários árabes que serão recebidos pelo rei, em Selles-sur-Cher. Segundo a lenda, o próprio Carlos Magno teria ido até à Terra Santa, onde terá descoberto relíquias que mandou trazer e distribuir pelas igrejas. No princípio do século VIII, muitos objectos de proveniência oriental chegavam ao porto de Fos; no princípio do século IX, Arles era um grande entreposto desses objectos, tecidos, moedas de metais preciosos, pérolas, etc.. Em 869, uma carta de Teodósio, patriarca de Jerusalém, louvava a benevolência dos árabes para com os cristãos do Oriente. Os muçulmanos permitiam-lhes construir igrejas, praticar a sua fé e viver em paz. A fundação do reino cristão de Jerusalém e dos estados latinos da Síria ligará de forma ainda mais estreita a Europa e o Médio Oriente. No princípio do século XII, um monge arquitecto de nome Jean, dirigiu-se para a Palestina, onde, em conjunto com os mestres locais, trabalha a arquitectura e a simbólica. De volta a França, trabalhará com Hildebert Lavardin, bispo de Mans, e dirige a construção da catedral.
O caso deste mestre de obras não é único. Chegou-se a ir mais longe ainda: no século XII, um abade de Cluny, Pierre, o Venerável, convoca uma equipa de sábios para que estabeleçam uma tradução do Alcorão. Sob o pretexto de conhecer o pensamento dos infiéis, tinha-se assim acesso directo a uma outra formulação religiosa. O próprio São Luís soube arranjar maneira de estabelecer conversações com o seu inimigo político, xeque Al-Jabal, que era o chefe dos ismaelitas. No século XIII, a cidade de Montpellier foi um centro fundamental de comércio; mercadores muçulmanos e cristãos e viajantes de todo o Próximo Oriente a ela acorriam em grande número. Os templários, grandes viajantes, souberam utilizar o código de honra e os ritos da cavalaria para manter contactos estreitos com o mundo muçulmano, que deviam teoricamente combater. Há uma personagem que simboliza perfeitamente este grande número de contactos: o Prestes João, misterioso soberano da Etiópia e da Núbia, que reinava sobre uma confraria hermética de origem egipto-cristã, os Nestorianos. Era considerado o príncipe mais rico do mundo, sem dúvida porque era ele que detinha as chaves das tradições simbólicas. O apóstolo São Tomé, patrono dos Mestres de Obras, teria ido até ao reino do Prestes João para lhe construir um palácio segundo as regras do esquadro e do compasso. O imperador Manuel, o Comneno, no século XII, recebeu uma carta assinada pelo Prestes João. Frederico Barba-Roxa recebeu a mesma missiva, redigida em latim. Por outras palavras, os poderosos deste mundo atribuíam ao Prestes João uma existência oficial, confirmando que a luz vinha mesmo do Oriente». In Christian Jacq, Le Message des Constructeurs de Cathédrales, Éditions du Rocher, 1980, A Mensagens dos Construtores de Catedrais, Instituto Piaget, Romance e Memória, Lisboa, 1999, ISBN 972-771-129-4.

Cortesia  de IPiaget/JDACT