Equívocos,
distracções e disparates que desmoronaram impérios, arrasaram economias e
alteraram o rumo do nosso mundo
Idade
Média. Obediência Cega. A Outra União Europeia de 771
«De
certa
maneira, a União Europeia é uma tentativa de fazer o relógio andar para trás
mil anos. No ano de 771, Carlos
tornou-se o único soberano de um reino germânico relativamente pequeno, cuja
capital ficava em Aachen. Através de cinquenta e três campanhas militares e
tendo a distinção de ser um dos mais competentes administradores da História,
Carlos conseguiu formar um império que era maior do que qualquer outro
existente na Europa desde o Império Romano. Esforçou-se durante toda a sua vida
para criar um reino unido e próspero, e, em geral, conseguiu o seu objectivo. A
literacia aumentou e a economia da Europa Central desenvolveu-se, incluindo a
economia das regiões que são hoje a Alemanha e a França. Mas a lei e a tradição conspiraram para condenar a primeira união europeia.
A lei que pôs fim a um dos mais extraordinários períodos da Idade Média proveio
de uma tradição antiga que tentava resolver o problema das rivalidades, muitas
vezes homicidas, entre os herdeiros de um rei ou de outro nobre. Esta lei
decretava que os bens de qualquer reino ou aristocrata seriam divididos entre
todos os filhos de um rei. Isto podia ajudar a minimizar a rivalidade entre
irmãos, mas também fazia com que os grandes reinos e feudos que eram viáveis
acabassem por ser várias vezes divididos. Era o que ia acontecer ao império de Carlos
Magno, quando este morresse, mas todos os herdeiros possíveis, excepto um,
Luís, morreram antes do pai. Luís tornou-se por esse motivo o único governante
do império e também conseguiu fazer um bom trabalho ao geri-lo. Mas, infelizmente,
também fez um bom trabalho em matéria de filhos. Teve três, Pepino, Lotário e
Luís, e todos eles se mostraram preparados e ansiosos por herdarem a sua terça
parte do reino. E até aceitaram que teriam de fazer partilhas com os irmãos.
Mas, em 823, a segunda mulher do
imperador Luís deu-lhe um quarto filho, Carlos. Quando Luís tentou alterar o
seu testamento para o filho mais novo poder ter uma quarta parte do império, o
mais velho organizou urna revolta dentro do palácio. O conflito foi cozendo em
fogo lento e esteve à beira de desencadear uma guerra civil. Luís, o pai,
tentou reunir-se com Lotário, na esperança de restaurar o relacionamento que
havia existido. Quando chegou a esse encontro, deparou-se com os três filhos
acompanhados pelos seus apoiantes, que o forçaram a abdicar. O império foi
nesta altura dividido em três partes e nunca mais voltou a ser unido. Se a lei
tivesse sido diferente e houvesse um só filho como herdeiro, a história da
família de Carlos Magno poderia ter sido mais sangrenta e a da Europa muito
mais pacífica. Se o império não tivesse sido fragmentado por uma tradição que
criava reinos rivais em todas as gerações, a norma daria origem a uma Europa
unida. Teriam sido evitados milhões de mortes se não tivesse havido as guerras
entre os países que se formaram a partir dos fragmentos do reino de Carlos
Magno. A unidade que a União Europeia deseja alcançar poderia ter sido
conseguida mil anos mais cedo. A lei que foi criada para manter a paz no seio
das famílias foi um erro terrível para a Europa, e o continente europeu pagou esse
erro com um milénio de caos e de guerra».
Prioridade
Errada. A família em vez do futuro. 1001
Há
muitas descrições dos viquingues feitas por altura do ano 1000. As mais suaves descrevem os temerários escandinavos como
violentos e impulsivos. Muitas usam expressões muito negativas, que são hoje
utilizadas para descrever psicopatas e gente ainda pior. Basicamente, o objectivo
dos viquingues durante mais de duzentos anos foi o de atacar, saquear e
conquistar as terras dos outros. Mas o roubo das terras toma-se mais
compreensível se considerarmos o solo pobre e pedregoso e o tempo gelado
característicos da Escandinávia. Quem quisesse salientar-se entre os viquingues
como sendo o mais violento de todos precisava de fazer um esforço tremendo.
Houve, porém, um viquingue que o foi e que por isso foi banido por duas vezes,
até acabar por ir viver para a extremidade mais ocidental do mundo europeu.
Este viquingue chamava-se Eric, o
Sangrento». In Bill Fawcett, 100 Mistakes That Changed History, 2010, Os 100
Grandes Erros da História, tradução Pedro Rosado, Clube do Autor, Lisboa, 2012,
ISBN 978-989-724-023-2.
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do CAutor/JDACT