sábado, 20 de dezembro de 2014

Versos. Fora de Moda. Acácio Matias. Luísa Sobral. «A minha vida é uma derrota sofrida e consentida pela cobardia do meu ser. Neste paraíso doce, terreno meu ser se evola en cânticos d’amores. Cintilam estrelas no céu sereno…»

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Na morte do João Lopes
«Quando a vida que tu amavas tanto
começava a sorrir-te docemente,
a morte, velha audaz, furtivamente,
roubou-te da existência o terno encanto.

Alma de justo, coração de santo,
fosse esta dor amarga, dor pungente
que nos fere, elixir divino, ardente,
que te erguesse do fúnebre quebranto...

Mas já que tudo é vão, querido amigo,
adeus, adeus e até à eternidade.
deplorar tua infausta e negra sorte

Me resta, e gritar, mísero castigo,
das leis da vida à crua falsidade:
maldita sejas, vezes mil, ó morte!»


A lenda da maça
«Homem errante e triste e desgraçado
que fazes na miséria o teu caminho
e que entre multidões anda sozinho
à dor do teu viver acorrentado.

Segue na treva teu escuro norte,
que a paz dourada, incerta, apetecida,
que na luta cruel buscas da vida,
os vermes ta darão na paz da morte.

E nem maldigas, homem desvairado,
do velho Adão o trágico atentado
contra as sagradas normas de Jeová.

A lei que te condena, a lei tirana,
é tua pobre condição humana,
é ingénua lenda o furto da maçã...»
Sonetos de Acácio Matias, in ‘Fora de Moda, Ponte de Lima 1949

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