segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Poesia. Música. Juventude. Grécia. «O contrário do drama é a indiciação não desenvolvida de um nome como aqui acontece. Esse nome emerge, vazio de corpo, porque a boneca se substituiu à menina desaparecida, mas é para ela que aponta, e a mostrar pela sua presença…»

Cortesia de wikipedia

Teatro da boneca
«A menina tinha os cabelos louros.
A boneca também.
A menina tinha os olhos castanhos.
Os da boneca eram azuis.
A menina gostava loucamente da boneca.
A boneca ninguém sabia se gostava da menina.
Mas a menina morreu.
A boneca ficou.
Agora também já ninguém sabe se a menina gosta da boneca.


E a boneca não cabe em nenhuma gaveta.
A boneca abre as tampas de todas as malas.
A boneca arromba as portas de todos os armários.
A boneca é maior que a presença de todas as coisas.
A boneca está em toda a parte.
A boneca enche a casa toda.


É preciso esconder a boneca.
É preciso que a boneca desapareça para sempre.
É preciso matar, é preciso enterrar a boneca.

A boneca.

A boneca».
Poema de Carlos Queiroz, Lisboa, 1907-1949, in ‘Os Poemas da Minha Vida
Na Paz!

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