Teatro
da boneca
«A
menina tinha os cabelos louros.
A
boneca também.
A
menina tinha os olhos castanhos.
Os
da boneca eram azuis.
A
menina gostava loucamente da boneca.
A
boneca ninguém sabia se gostava da menina.
Mas
a menina morreu.
A
boneca ficou.
Agora
também já ninguém sabe se a menina gosta da boneca.
E
a boneca não cabe em nenhuma gaveta.
A
boneca abre as tampas de todas as malas.
A
boneca arromba as portas de todos os armários.
A
boneca é maior que a presença de todas as coisas.
A
boneca está em toda a parte.
A
boneca enche a casa toda.
É
preciso esconder a boneca.
É
preciso que a boneca desapareça para sempre.
É
preciso matar, é preciso enterrar a boneca.
A
boneca.
A
boneca».
Poema de Carlos Queiroz, Lisboa, 1907-1949, in ‘Os Poemas da Minha Vida’
Na Paz!
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