«Os astecas, azteca,
ou mexicanos, mexica dominavam
com esplendor a maior parte do México quando os conquistadores espanhóis ali
chegaram, em 1519. A sua língua e a sua
religião tinham-se imposto sobre imensas extensões de terra desde o Atlântico
até ao Pacífico e das regiões áridas setentrionais até a Guatemala. O nome de
seu soberano Motecuhzoma era venerado ou temido de uma ponta à outra
daquele vasto território. Os comerciantes com as caravanas de carregadores
percorriam o país em todos os sentidos. Os funcionários recebiam impostos de
todos os lados. Nas fronteiras, as guarnições astecas mantinham à distância as
populações insubmissas. Em Tenochtitlán (México), sua capital, a
arquitectura e a escultura haviam alcançado um impulso extraordinário, enquanto
o luxo crescia no vestuário, à mesa, nos jardins e na ourivesaria. Os astecas,
contudo, haviam conhecido difíceis e obscuros começos. Chegados tardiamente ao
México central, no século XIII, foram por longo tempo considerados intrusos,
semibárbaros, pobres e sem terras. O início de sua ascensão data somente do
reinado de Itzcoatl (1428-1440). Os povos que os
circundavam podiam, na maioria, vangloriar-se de possuir tradições e uma antiga
civilização, das quais, entretanto, careciam os imigrantes mais recentes.
As antigas
civilizações mexicanas. A época pré-clássica
Na verdade porém, ao ser gradativamente descoberta pelas
escavações arqueológicas e pelo estudo dos documentos nativos, a antiguidade
mexicana revela-se de uma incrível riqueza de fases culturais, penetrando
profundamente até um passado remoto. Para mencionar apenas o México Central,
encontram-se vestígios desde 15000 ou 20000 a.C., de povos caçadores que
utilizavam armas de pedra lascada ao perseguirem mamutes e outros animais selvagens
em torno dos lagos e pântanos do vale do México. No IV milênio a.C., o milho
começava a ser cultivado na região de Tehuacán. A agricultura, nos seus
primórdios, fornecia uma fracção ainda pequena dos recursos necessários aos
nativos, os quais também se dedicavam à caça e à colecta. Gradativamente,
porém, aumentava a importância das plantas cultivadas, como milho, vagens,
abóbora, grãos oleaginosos como o huauhtli (amarante),
tomate e pimenta. Durante os cinco séculos seguintes, a agricultura expandiu-se
no planalto e ao longo dos vales em direcção ao litoral do golfo. O algodão não
podia aclimatar-se nas planícies centrais, mas o agave, maguey, fornecia fibras.
Com o advento da agricultura, da cerâmica e da tecelagem, despontam as aldeias,
aglomerações de índios sedentarizados que puderam fixar-se ao redor de campos
graças à segurança proporcionada pela regularidade das colheitas. Às margens
dos lagos, em Zacatenco, Ticomán, El Arbolillo, Copilco, Tlatilco, Cuicuilco,
os camponeses nativos levaram durante quase três milénios uma vida semelhante
às das vilas neolíticas do Velho Mundo. A cerâmica abundante e variada,
conforme descoberta nos túmulos, é rica em estatuetas, algumas das quais
provavelmente representam divindades, enquanto outras, com seus ornamentos e
turbantes, atestam a existência de estruturas sociais bastante diferenciadas. No
final do período chamado pré-clássico,
pouco antes da era cristã, os índios
de Cuicuilco eram suficientemente numerosos e organizados para
construírem a primeira pirâmide do planalto Central, túmulo de tijolos e
pedras, por sinal de configuração mais próxima do tronco cónico do que da forma
piramidal.
Os olmecas
Desde
aquela época, os túmulos de Tlatilco testemunham a influência que
exercera sobre o planalto a primeira das grandes civilizações mexicanas: a dos olmecas do litoral do golfo.
Desde a segunda metade do II milênio a.C., esse povo ainda misterioso
construíra imponentes centros cerimoniais principalmente em La Venta e San
Lorenzo, nos actuais estados de Tabasco e Veracruz. Antes de seu
desaparecimento, em 400 a.C., os olmecas já haviam difundido a sua
civilização por uma imensa área da Mesoamérica desde o vale do Balsas até El
Salvador e a Costa Rica, do litoral do golfo às montanhas de Oaxaca e ao
litoral do Pacífico. Pirâmides e altares, esteias esculpidas, baixos-relevos,
jades e jadeístas cinzelados, e sobretudo a escrita hieroglífica, mais a
contagem do tempo; com os olmecas, surgem esses traços essenciais a todas as
altas civilizações do México. Por isso, eles podem ser considerados o elo de
transição entre o período pré-clássico, isto é, o da aldeia, e o período
clássico, ou seja, o da civilização urbana». In Jacques Soustelle, A Civilização
Asteca, 1970, Projecto Democrarização da Leitura, As Civilizações
Pré-Colombianas, tradução de Maria Goldwasser, Zahar, Rio de Janeiro, 1987,
ISBN 978-85-7110-382-5.
Cortesia
de Zahar/JDACT