Para Atravessar Contigo o Deserto do
Mundo
«Para
atravessar contigo o deserto do mundo
para enfrentarmos juntos o terror da morte
para ver a verdade para perder o medo
ao lado dos teus passos caminhei.
Por ti deixei meu reino meu segredo
minha rápida noite meu silêncio
minha pérola redonda e seu oriente
meu espelho minha vida minha imagem
e abandonei os jardins do paraíso.
Cá fora à luz sem véu do dia duro
sem os espelhos vi que estava nua
e ao descampado se chamava tempo,
por isso com teus gestos me vestiste
e aprendi a viver em pleno vento».
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, in ‘Livro Sexto’
para enfrentarmos juntos o terror da morte
para ver a verdade para perder o medo
ao lado dos teus passos caminhei.
Por ti deixei meu reino meu segredo
minha rápida noite meu silêncio
minha pérola redonda e seu oriente
meu espelho minha vida minha imagem
e abandonei os jardins do paraíso.
Cá fora à luz sem véu do dia duro
sem os espelhos vi que estava nua
e ao descampado se chamava tempo,
por isso com teus gestos me vestiste
e aprendi a viver em pleno vento».
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, in ‘Livro Sexto’
Esta Gente
«Esta gente
cujo rosto
às vezes luminoso
e outras vezes tosco.
Ora me lembra escravos
ora me lembra reis.
Faz renascer meu gosto
de luta e de combate
contra o abutre e a cobra
o porco e o milhafre.
Pois a gente que tem
o rosto desenhado
por paciência e fome
é a gente em quem
um país ocupado
escreve o seu nome.
E em frente desta gente
ignorada e pisada
como a pedra do chão
e mais do que a pedra
humilhada e calcada.
Meu canto se renova
e recomeço a busca
de um país liberto
de uma vida limpa
e de um tempo justo».
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, in ‘Geografia’
às vezes luminoso
e outras vezes tosco.
Ora me lembra escravos
ora me lembra reis.
Faz renascer meu gosto
de luta e de combate
contra o abutre e a cobra
o porco e o milhafre.
Pois a gente que tem
o rosto desenhado
por paciência e fome
é a gente em quem
um país ocupado
escreve o seu nome.
E em frente desta gente
ignorada e pisada
como a pedra do chão
e mais do que a pedra
humilhada e calcada.
Meu canto se renova
e recomeço a busca
de um país liberto
de uma vida limpa
e de um tempo justo».
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, in ‘Geografia’
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