sábado, 10 de janeiro de 2015

A Condessa-rainha. Teresa. Luís Amaral. Mário Barroca. «Eudes I liderou a grande expedição de 1086-1087 que trouxe à Península Henrique e Raimundo de Borgonha, na qual participaram outros familiares seus, seu irmão Roberto, bispo de Langres, e seu tio Roberto…»

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A casa ducal de Borgonha: a ascendência do conde Henrique
«(…) Finalmente, Hildegarda de Borgonha, filha do segundo casamento do duque Roberto I, o Velho, com Ermengarda (ou Branca) de Anjou, casou em 1069 com Guilherme VIII, duque da Aquitânia, filho de Guilherme V da Aquitânia e da sua terceira mulher, Inês de Mâcon ou Inês de Borgonha. O casamento dissolveu-se em 1076, tendo o duque falecido em 1086 e Hildegarda depois de 1120. Ocupemo-nos, agora, da descendência de Henrique de Borgonha, Le Damoiseau. Como referimos, do seu casamento com uma filha do conde Berenguer Raimundo I, o Curvo, resultaram sete filhos. O primogénito foi Hugo I, duque de Borgonha, que nasceu por volta de 1056/1057. Como seu pai faleceu entre 1070 e 1074, foi ele quem herdou o título ducal por morte de seu avô, o duque Roberto I, o Velho, em 1076. Tinha então 20 anos e, para tanto, teve de assegurar o afastamento dos seus tios Roberto e Simão do ducado de Borgonha, tarefa onde contou com o apoio do abade Hugo de Cluny. Em Maio de 1076, menos de dois meses depois da morte de Roberto, o Velho, a questão sucessória estava resolvida e Hugo I assegurara o título ducal. O seu hipotético casamento anda envolto em polémica. Alguns autores não lhe atribuem qualquer mulher. Tal é a posição, por exemplo, de Jean Richard. Outros autores, como Ernest Petit, fazendo fé num documento de [1077/1078], referem que teria casado com Sibila de Nevers ou de Borgonha, filha do conde Guilherme, como ele próprio referiria explicitamente nesse diploma ao mencionar Sybylla, uxor mea e o comes Guillelmus, genitor jamdictae uxoris mee. No entanto, uma edição mais recente deste diploma revelou que o nome do duque nele mencionado é Oddo (portanto Eudes I) e não Hugo, o que deitou por terra este casamento. André Duchesne, que ignorou este diploma, referia o seu casamento com Iolanda, filha do conde de Nevers. Qualquer que tenha sido o seu casamento (se é que ele existiu), dele não resultou descendência. O duque Hugo I organizou a expedição de 1078 que veio à Península, em auxílio de Sancho I de Aragão, ajudando o monarca a apoderar-se do reino de Navarra. Desta expedição terá regressado a território franco carregado de despojos e de prisioneiros. No ano seguinte, em 1079, segundo Duchesne na sequência da morte de sua mulher, a duquesa Iolanda; segundo Ernest Petit depois da morte de Sibila de Never, abdicou do título ducal e entrou como monge para a abadia de Cluny, governada por seu tio-avô, o abade Hugo, o Grande, que seria o seu principal conselheiro privado. Como referimos, esta situação levou o papa Gregório VII a escrever uma dura carta ao abade Hugo, criticando-o por ter motivado, ou recebido, no vosso tranquilo retiro de Cluny o duque de Borgonha e, por isso, ter deixado cem mil cristãos sem protector. Apesar da interferência papal, Hugo manteve-se fiel ao apelo religioso e acabaria por falecer como monge em Cluny, a 29 de Agosto de 1093, onde foi sepultado.
Desta forma, e apenas três anos depois de ter chegado à posse de Hugo I, o título ducal borgonhês passou para as mãos de seu irmão, Eudes I, Borel, que assumiu os destinos da casa ducal em 1079, mantendo-se à sua frente até morrer, em 1102, na Terra Santa, envolvido nas Cruzadas. Eudes (ou Odo) I, Borel, nasceu por volta de 1060 e assumiu o governo da casa ducal em fins de 1079, depois de seu irmão se ter retirado da vida secular. Casou com Sibila da Borgonha, estabelecendo a ligação directa entre as duas casas senhoriais que eram geograficamente vizinhas, acasa ducal e a casa condal da Borgonha. Com efeito, Sibila de Borgonha era filha dos condes de Borgonha Guilherme, o Grande ou Tête-Hardie, e Etiennette de Longwy. André Duchesne, que, em 1619, ignorava o nome de Sibila, registou apenas que Eudes fora casado com uma filha de Guilherme I, Tête-Hardie. Mas em 1628 esclarecia que, apesar de alguns autores lhe chamarem Sibila, o verdadeiro nome da mulher de Eudes I era Matilde ou Mahaut, filha de Guilherme I, Tête-Hardie. Baseava-se, para tal, no testemunho de Orderico Vitalis. A sua tese seria adoptada por Ernest Petit. No entanto, os estudos genealógicos mais recentes asseguram o casamento de Eudes com Sibila de Borgonha. Desta união nasceram quatro filhos: Hélie (ou Alix), Fleurine, Hugo e Henrique. Eudes I liderou a grande expedição de 1086-1087 que trouxe à Península Henrique e Raimundo de Borgonha, na qual participaram outros familiares seus, seu irmão Roberto, bispo de Langres, e seu tio Roberto, futuro regente da Sicília, e diversos outros nobres franceses, Raimundo de Saint-Gilles, conde de Toulouse; Savaric de Donzy, depois conde de Chalon e senhor de Vergy; e Humberto de Joinville. Os preparativos desta expedição remontam a 1085.
Em 5 de Agosto de 1087 o duque Eudes I encontrava-se em Leão, na corte de Afonso VI e de sua tia, a rainha dona Constança de Borgonha. Aí assinou um documento onde reconheceu ter molestado os religiosos de Saint-Valérien e de Saint-Philibert de Tournus, por causa dos bens que dona Constança lhes tinha doado depois da morte de seu primeiro marido, o conde Hugo de Chalon-sur-Saône. Segundo o diploma, depois dos estrondosos sucessos, da sua expedição militar, o duque tinha-se dirigido aLeão com um magno exército para visitar a sua tia, tendo sido alvo de uma grande recepção. E foi nesse âmbito que decidiu ratificar as doacções de dona Constança, ampliando-as como forma de compensar os monges pelos danos causados. O seu nome ficou ainda associado à fundação da abadia de Cister em 1098, e à organizaçío de uma expedição à Terra santa, enquadrada na Primeira Cruzada. Com efeito, em 1100 o duque Eudes I iniciou os preparativos para uma nova expedição militar, desta vez a Jerusalém, como forma de expiar a enormidade das suas faltas, que confessou publicamente perante o capítulo da abadia de Saint-Bénigne de Dijon em 1101. Os prepararivos prolongaram-se por dois anos, entre 1100 e 1101, estando plasmados em várias doacçóes do duque à abadia de Molêsme». In Luís Amaral, Mário Barroca, A Condessa-rainha, Teresa, coordenação de Ana Maria Rodrigues e Outras, Círculo de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4702-1.

Cortesia de CLeitores/JDACT