sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Poesia. Fernando Pessoa. Jazz. «Em certos casos, quanto mais nobre é o génio, menos nobre é o destino. Um pequeno génio ganha fama, um grande génio ganha descrédito, um génio ainda maior ganha desespero…»

Mónica e Fernando
jdact

«Oca de conter-me
como a hora dói!
Pérfida de ter-me
como me destrói
o meu ser inerme!

Ó meu ser sombrio!
Ó minha alma tal
como se p’lo rio
do meu ser igual
sempre a mim, e frio

De nocturno e meu,
passasse, cantando,
uma louca, olhando
dum barco prò brando
silêncio do céu».


«Dentro em meu coração faz dor.
Não sei donde essa dor me vem.
Auréola de ópio de torpor
em torno ao meu falso desdém,
e laivos híbridos de horror
como estrelas que o céu não tem.

Dentro em mim cai silêncio em flocos.
Parou o cavaleiro à porta...
E o frio, e o gelo em brancos blocos
mancha de hirto a noite morta...
Meus tédios desiguais, sufoco-os,
a minha alma jaz ela e absorta

Dentro em meu pensamento é mágoa…
Corre por mim um arrepio
que é como o afluxo à tona de água
de se saber que há sob o rio
o que... Brilha na noite a frágua
onde o tédio bate o ócio a frio»
Poemas de Fernando Pessoa, in ‘Novas Poesias Inéditas, 4-5-1914 e 7-8-1914’

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