Habsburgo
que segue o destino trágico dos seus ancestrais
«(…)
Decorre 1863. Fernando José
Maximiliano encontra-se, já há seis anos que eles haviam estado juntos pela
última vez!, com o seu irmão, o imperador Francisco José I. O tema da conversa
entre ambos não podia ser outro: México, distante e sangrento... a proclamação,
por essa farsa que passou à História com o nome de Asamblea de los Notables,
reunida na cidade do México em l0 de Julho de 1863, de Maximiliano como imperador do país... a deposição do
presidente Juarez... Os dois irmãos estudam a situação, pesam probabilidades.
Maximiliano mostra-se entusiasmado, forma planos. Para ele, o trono do México
será uma capitosa evasão da vida insípida europeia, do pacífico castelo de
Miramar, da existência insignificante, sem horizontes, que a sua condição de
arquiduque lhe marcava. Ele, exuberante de sonho, traça utópicos programas de
governo, de realizações. O irmão, mais experiente, mais maduro no poder,
porventura, com a previsão do futuro dramático, objecta-lhe, friamente: Mas,
quem poderá garantir que Juarez e os seus partidários não voltam, quando as francesas abandonarem o país?
Recorda-lhe o exemplo de Maria Antonieta e pergunta, ansioso: Quem impedirá que
os Mexicanos te façam o mesmo que os revolucionários franceses fizeram em 1793 à nossa desgraçada parente?
Maximiliano
faz ouvidos surdos às prudentes palavras de Francisco José, conquistado
inteiramente pelas perspectivas que se ofereciam à sua ânsia de aventura. A
coroa mexicana concedia-lhe a hipótese de uma sugestiva experiência de governo.
O espírito inebriava-se-lhe com o projecto e a imaginação, inflamada, sonhava
já com um México moderno, poderoso, que pesasse decididamente no tabuleiro do
xadrez internacional. A ideia era apaixonante. Respondeu ao imperador da
Áustria: Juarez foi totalmente abandonado pelos seus partidários e anda
foragido. Além disso, Napoleão prometeu-me deixar lá as tropas por mais três
anos, até que a situação esteja consolidada e o país pacificado. De resto, como
sou um príncipe católico e liberal, terei por mim a grande facção católica do país
e a facção liberal... Uma deputação da nação mexicana vem à Europa saudar
Maximiliano como seu imperador. O arquiduque Fernando José aceita a coroa
imperial e em 10 de Abril de 1864
renuncia aos seus possíveis direitos à coroa austríaca.
Todo
o mundo cristão depositou as maiores esperanças em que Maximiliano acabasse com
as perseguições religiosas no grande país de que ia ser chefe de Estado. O
próprio papa celebra por tal intenção, nesse mesmo mês, missa na Capela
Sistina, com a assistência do imperador e da imperatriz, e diz no final do
Ofício Divino: Eis o Cordeiro de Deus que apaga os pecados do Mundo. Por Ele
reinam e governam os reis, por Ele fazem justiça, por Ele se exerce todo o
poder. Eu vos recomendo em Seu nome a felicidade dos povos católicos, que vos
estão confiados. Respeitai os seus direitos e os direitos da Igreja! Palavras
de confiança que, em breve, o espírito um tanto inconstante do imperador
olvidaria, ou a que a sua tibieza no poder não soube dar satisfação. A viagem
dos imperadores do México, triunfal na Europa e saudada calorosamente pelos
Estados amigos, transcorre no meio de festas a bordo, de conversas brilhantes,
mas superficiais, dos membros do numeroso séquito. Todavia, na outra banda do
oceano, as coisas não correram tão propícias. A chegada da frota imperial ao
México, levando o Themis por
navio-almirante, como não eta esperada tão cedo, levou a perturbação às
autoridades. Maximiliano e a sua corte tiveram de conservar-se a bordo mais um
dia inteiro, enquanto, em terra, no porto de Vera Cruz, se improvisava
apressadamente a recepção». In Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria
Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.
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LCEditora/JDACT