Elegia
para uma gaivota
«Morreu
no mar a gaivota mais esbelta,
a
que morava mais alto e trespassava
de
claridade as nuvens mais escuras com os olhos.
Flutuam
quietas, sobre as águas, suas asas.
Agua
salgada, benta de tantas mortes angustiosas' aspergiu-a.
E
três pás de ar pesado para sempre as viagens lhe vedaram.
Eis
que deixou de ser sonho apenas sonhado.
É
finalmente sonho puro,
sonho
que sonha finalmente, asa que dorme voos.
Cantos
de pescadores, embalai-a!
Versos
dos poetas, embalai-a!
Brisas,
peixes, marés, rumor das velas, embalaia!
Há
na manhã um gosto vago e doce de elegia,
tão
misteriosamente, tão insistentemente,
sua
presença morta em tudo se anuncia.
Ela
vai, sereninha e muito branca.
E
a sua morte simples e suavíssima
é
a ordem-do-dia na praia e no mar alto».
Poema de Sebastião da Gama, in ‘Os Poemas da Minha Vida, VN Azeitão, 1924-1952’
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