segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Leonor Teles. Uma Mulher de Poder? Isabel Maria Campos. «Terá a rainha tido tanto poder como Fernão Lopes aponta? Terá o governo do rei sido conduzido segundo a vontade e as ambições de Leonor? Ou será que o casal tinha um projecto comum no governo e na vida, que os fazia companheiros e coadjuvantes um do outro?»

Cortesia de wikipedia e jdact

Resumo:
«Estudar o papel político da rainha dona Leonor Teles, mulher do rei Fernando I de Portugal, foi o objectivo deste trabalho. Avaliar a veracidade do retrato que Fernão Lopes construiu, da rainha, nas suas crónicas, foi o desafio que espoletou a pesquisa. O confronto dos seus escritos com a chancelaria activa e passiva do rei Fernando e com outras crónicas (como as de Pero Lopez Ayala, de Jean Foissart, de Jerónimo Zurara e a Crónica do Condestável ) representou a metodologia pela qual optámos. Apesar do número de doações dadas aos familiares, amigos e criados da rainha ser 150, num total de 1691 actos de chancelaria, ou seja, 8,87%, Leonor Teles influenciou o governo do marido, nos domínios da graça régia, da diplomacia internacional e da sucessão do Reino, como provam as várias mercês que o rei emitiu, em conjunto, com a rainha e, às vezes também com a infanta, dona Beatriz, e a participação de Leonor nos tratados de casamento da filha com Castela. Esta presença deve ser compreendida tendo em conta, não só o perfil psicológico e emocional do casal, mas, também, a noção de governo conjunto que o rei defendeu dever ter com a rainha, por ele achar que ela tinha direito a uma parte desse regimento. O monarca, porém, não abandonou as prerrogativas de rei absoluto, pois, mesmo nas terras da rainha não se coibiu de interferir, apesar dos amplos poderes e liberdades que a carta de arras atribuía a Leonor. A comparação das chancelarias da Rainha, enquanto Consorte e, depois enquanto Regente revelou, que, nesta última e ao contrário da anterior, os privilégios atribuídos foram parcos e precários e que os agraciados passaram a ser os estratos mais baixos da nobreza, do clero e a burguesia. Leonor Teles morreu, provavelmente entre 1390 e 1405/6, em Valladolid. Segundo Antolínez de Burgos, um historiador seiscentista desta cidade, a sepultura da rainha foi encontrada no claustro do Mosteiro de La Merced de Valladolid, em 1626,
quando aí se procediam a obras de restauração».

Introdução
«O objectivo da nossa tese é a busca do papel político da rainha dona Leonor Teles. Esta investigação vem na continuidade de uma biografia que elaborámos desta rainha, a partir das crónicas de Fernão Lopes, no Seminário de História Económica e Social. No final desta dissertação, incluímos, também, os resultados da investigação que fizemos à vida de dona Leonor Teles, em Castela, durante o exílio. O ponto de partida deste trabalho foi testar a veracidade das palavras de Fernão Lopes, relativamente ao arquétipo que ele construiu para a rainha. O cronista apresenta-a como uma mulher inteligente, manipuladora, intriguista, ambiciosa, entre outros atributos que se prendem com a sua beleza física e o seu comportamento adúltero. Estes dois últimos factores não constituíram objecto de análise nesta investigação, na medida em que não os considerámos relevantes e passíveis de comprovação, embora os referenciemos, sempre que nos pareçam oportunos. Deste modo, o objecto do nosso estudo centrou-se na indagação sobre o lugar e o peso político que dona Leonor Teles terá, porventura, ocupado no reinado de Fernando I e durante a sua regência. Terá a rainha tido tanto poder como Fernão Lopes aponta? Terá o governo do rei sido conduzido segundo a vontade e as ambições de Leonor? Ou será que o casal tinha um projecto comum no governo e na vida, que os fazia companheiros e coadjuvantes um do outro? Será que a clientela da rainha, constituída pelos seus familiares, parentes e amigos, de facto, existiu e teve a relevância política e social que Fernão Lopes sugere? Para tentar responder a estas questões, começámos por fazer, a partir das crónicas de Fernão Lopes sobre Fernando I e João I. Um levantamento das terras que Fernando deu à rainha, na carta de arras e em doações posteriores, e, também, dos nomes que constituíram a sua dita clientela. Obtidas estas listagens, partimos para o estudo da Chancelaria de D. Fernando, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. O objectivo foi confrontar as duas fontes: pesquisar na mencionada chancelaria as referências retiradas do cronista e avaliar, na medida do que nos foi possível, o impacto político que estas tiveram no governo do reino, nos períodos acima indicados. Paralelamente a este trabalho, fomos consultando e comparando as informações de Fernão Lopes com outros cronistas como: Pedro Lopez Ayala, Jean Froissat, Jerónimo Zurita (Anales de la Corona de Aragon), Duarte Nunes Leão e o texto anónimo Crónica do Condestável de Portugal D. Nuno Álvares Pereira. Constituíram, igualmente, objecto de análise a Crónica dos Sete Primeiros Reis de Portugal; a Crónica de D. Pedro, de Fernão Lopes; os três tratados de casamento da Infanta dona Beatriz com os Infantes Fradarique, Enrique e com o rei de Castela, Juan I, assim como o Testamento do rei D. Fernando, publicados por Salvador Dias Arnaut, na sua Dissertação de Doutoramento, A Crise Nacional dos Fins do século XIV, I, A sucessão de D. Fernando; os Livros de Linhagem do conde Pedro; as Cortes Portuguesas, Reinado de D. Fernando (1367-1383); o Livro da Noa; alguma legislação publicada nas Ordenações Afonsinas e nas Ordenações Manuelinas; El Memorial Portugues de 1494; a Monarchia Lusitana, parte VIII, de frei Manuel Santos; História Genealógica da Casa Real Portuguesa de António Caetano Sousa, entre outras fontes.
Para o estudo da chancelaria da rainha, enquanto Consorte e, depois, como Regente, procedemos à leitura e análise dos seus diplomas que encontrámos: na Chancelaria de D. Fernando; na Colecção Especial, caixa 72, maço 19; no Mosteiro de Santos-o-Novo; no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra; bem como outros documentos de dona Leonor Teles (e, também, de Fernando, somente, e dos dois, em conjunto) transcritos e publicados por João António Mendes Neves, na sua Dissertação de Mestrado, A Formosa Chancelaria. Para retirarmos algumas dúvidas e fazermos algumas comparações relativamente ao estatuto que dona Leonor Teles teve, no enquadramento das rainhas da primeira dinastia, indagámos o Livro 3 da Chancelaria de D. Dinis; documentos avulsos, nas Gavetas 17 e 18 na Colecção Especial da Torre do Tombo; a Concordata entre El rey D. Affonoso IV e o Inffante D. Pedroseu filho herdeiro sobre a discordia que havia entre elles pella morte de Donna Ignes […]. Por fim com o objectivo de, ainda, encontrar referências à rainha, pesquisámos o Livro 1 da Chancelaria de D. João I, onde constatámos as várias doações feitas pelo Mestre de Avis e, depois já, como rei João I, aos seus apoiantes, dos bens de dona Leonor Teles e dos seus partidários». In Isabel Maria Garcia Pina N. Baleiras S. Campos, Leonor Teles, uma Mulher de Poder? Mestrado em História Medieval de Portugal, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2008.

Cortesia da BNL/JDACT