«Oca
de conter-me
como
a hora dói!
Pérfida
de ter-me
como
me destrói
o
meu ser inerme!
Ó
meu ser sombrio!
Ó
minha alma tal
como
se p’lo rio
do
meu ser igual
sempre
a mim, e frio
De
nocturno e meu,
passasse,
cantando,
uma
louca, olhando
dum
barco prò brando
silêncio
do céu».
«Dentro
em meu coração faz dor.
Não
sei donde essa dor me vem.
Auréola
de ópio de torpor
em
torno ao meu falso desdém,
e
laivos híbridos de horror
como
estrelas que o céu não tem.
Dentro
em mim cai silêncio em flocos.
Parou
o cavaleiro à porta...
E
o frio, e o gelo em brancos blocos
mancha
de hirto a noite morta...
Meus
tédios desiguais, sufoco-os,
a
minha alma jaz ela e absorta
Dentro
em meu pensamento é mágoa…
Corre
por mim um arrepio
que
é como o afluxo à tona de água
de
se saber que há sob o rio
o
que... Brilha na noite a frágua
onde
o tédio bate o ócio a frio»
Poemas de Fernando Pessoa, in ‘Novas Poesias Inéditas, 4-5-1914 e 7-8-1914’
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