Memórias
«Ó
Mneumósina, rainha
como
tu vives encerrada!
Laboratórios,
oficinas,
tudo
te serve de mansarda!
Ó
Mneumósina, rainha,
instigada
da Grande Obra,
brincas
connosco às escondidas,
mas
tens a morte em tuas órbitas…
Ah!
Como cega te arremessas,
ó Mneumósina,
rainha!
Nas
espirais da cibernética,
nos
estilhaços da energia!
E
no entanto bem suspeitas
ó Mneumósina,
rainha!
Que
hás-de morrer nessa fogueira
a
que vais dando a tua vida…»
«Mas
teu corpo de mármore fugidio,
como
há-de a humanos golpes sucumbir?
Se
és múltipla, presente em toda a parte,
quem
pode assassinar-te, ó testemunha?
Ó
bela adormecida na penumbra
dos
arquivos, quem consegue atingir-te?
Quem
vai secar-te, ó fonte inextinguível
do
secular saber?
Quem
é capaz
de
eliminar teu corpo que não há…?»
Poemas
de David Mourão Ferreira, in ‘Memória’
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