«Antes de amar-te,
amor, nada era meu:
vacilei pelas ruas e
coisas:
nada contava nem tinha
nome:
o mundo era do ar que
esperava.
E conheci salões
cinzentos,
túneis habitados pela
lua,
hangares cruéis que se
despediam,
perguntas que
insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto
e mudo,
caído, abandonado e
decaído,
tudo era
inalienavelmente alheio,
tudo era dos outros e
de ninguém,
até que tua beleza e
tua pobreza
de dádivas encheram o
Outono».
«Áspero amor, violeta coroada de espinhos...
Arbusto entre tantas paixões erguidas,
lança das dores, coroa da ira,
por quais caminhos e como te dirigiu a minha alma?
Por que precipitaste teu fogo doloroso,
repentinamente, entre as folhas frias do meu
caminho?
Quem te ensinou os passos que te levaram a mim?
Que flor, que pedra, que fumaça mostraram minha
casa?
A verdade é que tremeu a noite apavorante,
a aurora encheu todas as taças com seu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,
enquanto o amor cruel me cercava sem trégua,
até que padecendo-me com espadas e espinhos,
abriu meu coração um caminho ardente».
Poemas de Pablo Neruda, in ‘Colectânea’
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