Com
a devida vénia ao Jornal Público
«No
Pico do Gralheiro, em plena Serra da Freita, em Arouca, a cerca de 1100
metros de altitude, está uma torre com 47 metros e 13 pisos. É o radar
meteorológico mais moderno de Portugal, que cobrirá a zona Norte, até agora dependente dos dados de quatro radares
espanhóis. É o único radar do país com polarização dupla e com um miradouro à
disposição dos visitantes. Vai ser inaugurado dia 18 deste mês, pelo PR, Cavaco Silva, que andará pelo geoparque
de Arouca num roteiro que inclui uma visita às pedras parideiras. Ainda em
regime experimental, o radar do Norte, que representou um investimento de cerca
de três milhões de euros comparticipados em 85% por fundos comunitários, deverá
entrar em funcionamento durante este trimestre. É o único radar do país que
emite os seus sinais tanto na horizontal como na vertical, o que permite
identificar o tipo de partículas de água em diversos estados na atmosfera e,
além disso, tem um miradouro à disposição dos visitantes. Portugal passará a
ter um terceiro radar com tecnologia mais avançada do que os dois já
existentes. O radar de Coruche, que cobre a zona Centro, funciona desde Junho
de 1998, e o de Loulé, no Sul, desde Janeiro de 2005. O radar de Arouca
distingue-se, desde logo, pela emissão horizontal e verticalmente dos seus
sinais (polarização dupla do sinal), o que facilita a classificação do tipo de
partículas na atmosfera, de chuva, neve ou granizo, e permite determinar com
mais rigor a sua intensidade. Com um
radar de polarização dupla podemos ter uma definição mais correcta dos
contornos das partículas e, com isso, podemos dizer com boa precisão o tipo de
partícula estamos a detectar. Dentro da chuva [por exemplo], se são chuviscos
ou é chuva forte, explica o gestor do projecto do radar, o meteorologista Sérgio
Barbosa, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA - ex-IM). Os
radares de Coruche e Loulé, acrescenta, são de polarização só
horizontal, pelo que permitem dizer que se está a detectar uma mancha forte de
partículas, por exemplo, mas não o seu tipo. A tecnologia permite assim
detectar alterações meteorológicas e hidrológicas, como fenómenos inesperados e
o aumento da intensidade da chuva, além de ocorrências pontuais como nuvens de
fumo que se formam nos incêndios florestais. Ou seja, detecta chuva forte e
localizada, chuva forte e prolongada, saraiva, granizo, ventos muito fortes e
acompanha as suas trajectórias. Os radares de Coruche e de Loulé também o
fazem, mas o do Norte será mais eficiente pela tecnologia que incorpora. E a
distância de 200 quilómetros entre cada um dos três radares permite desenvolver
um padrão espacial da precipitação e medir a velocidade do vento com maior
precisão. O receptor do novo radar é mais sensível, por isso detecta
partículas mais pequenas. E há um aspecto que Sérgio Barbosa salienta
como um contributo valioso na salvaguarda de pessoas e bens: o radar de Arouca fornecerá informações
actualizadas e com previsões até um máximo de três horas de fenómenos
meteorológicos adversos e perigosos. Será
possível detectar e acompanhar esses fenómenos com uma previsão a tempo
imediato. Além disso, permitirá melhorar os modelos de previsão
meteorológica e, segundo Sérgio Barbosa, será o local ideal para fazer
investigação na área da meteorologia. É uma ferramenta de observação remota
que emitirá um feixe com um alcance de 300 quilómetros, especifica. É
automático e, tal como o de Coruche e de Loulé, será gerido em Lisboa. Desde
Outubro que está em regime experimental. Há sempre ajustamentos a fazer,
rastreios... Tarefas que incluem reduzir a influência dos parques eólicos. Com
o radar de Arouca, a região Norte deixa de depender, como agora acontece,
dos radares espanhóis da Corunha, Santander, Valladolid e Cáceres. Estes
radares têm sido muito úteis e a colaboração com Espanha continuará, diz
Sérgio Barbosa. Os radares espanhóis serão utilizados para cobrir zonas onde se
verifiquem ocultações, nomeadamente devido a cadeias montanhosas, e quando o
radar de Arouca estiver em manutenção.
Um miradouro para o mar e as serras
E
há ainda o miradouro. Não estava programado no projecto inicial, mas quando a
torre do radar meteorológico de Arouca começou a ganhar formas percebeu-se que
um dos seus varandins daria um belo miradouro. E assim é. A 45 metros de
altura, no 10º piso, está um miradouro, um varandim envidraçado, que permite um
giro de 360 graus para ver o mar, a ria de Aveiro, o Porto, as serras da
Estrela, do Caramulo e de Montemuro e a frecha da Mizarela, uma das
cascatas mais altas da Europa, ou seja, toda a paisagem em redor. O acesso é
por elevador ou escadas. Depois da inauguração, as visitas podem ser marcadas
através do Geoparque de Arouca, que vai gerir o miradouro que será mais um
geossítio do seu roteiro. O presidente da Câmara de Arouca, Artur Neves, está
feliz com a obra e com a receptividade do IPMA para aí albergar o miradouro. É
um exemplo que nem sempre acontece. Trata-se de um investimento da
Administração Central que, em boa hora, se disponibilizou para uma concertação
com a estratégia local, que assenta no geoparque e nas visitas ao território,
frisa. É fantástico. As pessoas têm possibilidade de subir e apreciar a
paisagem». In Sara Dias Oliveira,
Jornal Público, 5 de Fevereiro de 2015.
Cortesia de Jornal Público
Um abraço, Sérgio! Do amigo JDACT