quinta-feira, 21 de maio de 2015

A Rainha Adúltera. Joana de Portugal e o Enigma da Excelente Senhora. Marsilio Cassotti. «No mesmo dia em foi assinado o contrato matrimonial da mãe da futura Isabel, 'a Católica' foram também rubricadas as cláusulas do matrimónio da irmã da noiva, Beatriz…»

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Metida no Mosteiro de Santa Domingo de Toledo
«(…) A 2 de Abril de 1446,o rei castelhano deu finalmente o braço a torcer e concedeu procuração, em língua portuguesa, a García Sánchez Valladollid, escrivão do monarca, para que em seu nome tratasse do casamento com a ilustre e inclita infanta dona Isabel. Era a primeira vez que, num documento oficial, a futura mãe de Isabel, a Católica recebia o tratamento de infanta, que em rigor não lhe correspondia. Muito provavelmente, o regresso da infanta Joana a Portugal ficou resolvido uma semana mais tarde, em Évora, quando o seu irmão Afonso V por conselho do tio, o regente Pedro, assinou o contrato do matrimónio da sua prima, a jllustre e alta esclarecida primçesa dona Jsabel (um novo salto hierárquico), com o rei de Castela. Mas seria preciso ainda algum tempo para Joana deixar o mosteiro onde a tinham confinado. Antes, tinham de ser cumpridas quase todas as cláusulas do contrato matrimonial da sua prima, assinado pelo irmão. O documento dedicava várias páginas a explicar que os quarenta e cinco mil florins de ouro do dote da noiva, cunhados em Aragão, correspondiam, na realidade, ao cancelamento da dívida contraída pelo rei de Castela com Portugal, pouco antes da batalha de Olmedo, pela contratação das forças militares que o dito rrey de Castella, nosso tio, nos emuiou rougar que lhe enmuiassemos. Contam as crónicas portuguesas que a prometida chegara a Évora acompanhada da mãe, Isabel de Barcelos, e de dona Beatriz, irmã da dita princesa, futura duquesa de Viseu. Nessa cidade, no dia 15 de Outubro a infanta Isabel acabaria por renunciar à herança da avó, formada, em parte, por alguns bens expropriados, depois de Aljubarrota, ao almoxarife judeu da rainha Leonor Teles, muito provavelmente pertencente à mesma linhagem que a de um futuro administrador das rendas da rainha dona Joana em Castela.
Rui Pina afirma que desse matrimónio se seguiu a este Reyno pouca despesa, porque na realidade não se pagou dote. No entanto, noutro aspecto, as cláusulas matrimoniais de Isabel foram muito menos vantajosas do que as que seriam concedidas a Joana, infanta de nascimento, filha e irmã de rei. Não obstante, mantinha-se que Isabel tinha a liberdade de escolher (...) o pessoal feminino que a haveria de servir, num primeiro momento tratar-se-ia de portugueses, e após um ano em Espanha ela própria faria as nomeações dos seus oficiais portugueses e castelhanos. Na realidade, a dona Isabel de Portugal, como seria conhecida em Castela a partir de então esta infanta, foi-lhe permitido levar uma dama e quatro ou cinco donzelas, na sua maior parte jovens descendentes de linhagens lisboetas de origem burguesa, que tinham ascendido à condição nobre havia poucas gerações. As excepções, até onde é possível conhecer a genealogia dessas mulheres, foram Inês e Clara de Alvarnaes (sic), mãe e filha, que as fontes castelhanas apresentam como descendentes de Santo António de Lisboa. Informação que não aparece em nenhum documento português, se bem que haja registo de que já no século XIV essa linhagem possuía uma capela na Sé lisboeta, perto da escola (ou casa) relacionada pela tradição com o santo. O certo é que, quando nasceu a infanta Joana, os Alvernazes (sic) já eram considerados uma das famílias mais antigas de Lisboa, a única, de entre as que se tinham oposto à subida ao trono do mestre de Avis, a conseguir reincorporar-se na elite da cidade.
A terceira donzela de Isabel de origem certamente nobre era Beatriz Silva, filha de Rui Gomes Silva, alcaide de Campo Maior e tio da toledana María Silva, a protectora da rainha dona Leonor. Quanto às restantes donzelas da casa de Isabel, apenas o apelido de algumas delas permite especular que eram de origem portuguesa. No mesmo dia em foi assinado o contrato matrimonial da mãe da futura Isabel, a Católica foram também rubricadas as cláusulas do matrimónio da irmã da noiva, Beatriz, com o irmão do rei Afonso, o príncipe Fernando, que herdaria o título de duque de Viseu aquando da morte do seu tio, o infante Henrique. Mas nem mesmo estes acordos permitiriam que a infanta Joana deixasse o mosteiro toledano de imediato. Foi necessário esperar até que fossem celebrados os esponsais, (segundo alguns documentos, matrimónio por procuração) da prima de dona Joana com o rei de Castela, os quais tiveram lugar em Maio de 1447, em Alcáçovas, na presença de Afonso V. De acordo com as crónicas lusas, o casamento de dona Isabel de Portugal com o rei de Castela foi muito celebrado em Lisboa, aonde a corte se deslocou depois do enlace. Rui Pina destaca a riqueza dos festejos sem os descrever, aludindo à presença de todollos Senhores e pessoas principales do Reino». In A Rainha Adúltera, Joana de Portugal e o Enigma da Excelente Senhora, Crónica de uma difamação anunciada, Marsilio Cassotti, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2012, ISBN 978-989-626-405-5.

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