Não
me dou longe de ti
«Não
me dou longe de ti
nem
em sonhos eu consigo
ter
alguém no meio de nós
só
Deus sabe o que pedi
para
tu ficares comigo
e
ouvires a sua voz.
Só
eu sei o que sofri
quando
sonhava contigo
e
abria os olhos a sós.
Sabes
da minha fraqueza
onde
a faca tem dois gumes
onde
me mato por ti
e
da tua natureza
corar-me
o peito em ciúmes
e
eu finjo que não morri.
Mas
é da minha tristeza
esconder
no fado os queixumes
e
a cantar entristeci.
Á
noite voltas de chita
com
duas flores no regaço
e
tudo o que a Deus pedi
és
tão minha, tão bonita
és
a primeira que abraço
aquela
em que me perdi.
Nem
a minha alma acredita,
que
me perco no teu passo
não
me dou longe de ti.
Assim
te quero guardar
como
se mais nada houvesse
nem
futuro, nem passado
de
tanto, tano te amar
pedi
a Deus que trouxesse
o
teu corpo no meu fado».
Poema
de João Monge
Barroco
Tropical
«O
amor é inútil: luz das estrelas
a
ninguém aquece ou ilumina
e
se nos chama, a chama delas
logo
no céu lasso declina.
O
amor é sem préstimo: clarão
na
tempestade, depressa se apaga
e
é maior depois a escuridão,
noite
sem fim, vaga após vaga.
O
amor a ninguém serve, e todavia
a
ele regressamos, dia após dia
cegos
por seu fulgor; tontos de sede
nos
damos sem pudor em sua rede.
O
amor é uma estação perigosa:
rosa
ocultando o espinho,
espinho
disfarçado de rosa,
a
enganosa euforia do vinho.»
Poema
de José Eduardo Agualusa
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