sexta-feira, 29 de maio de 2015

Guia. Poesia. Vinicius de Morais. «Ah, minha amada de olhos ateus: cria a esperança nos olhos meus de verem um dia o olhar mendigo da poesia nos olhos teus»

jdact e wikipedia

Apelo
«Meu amor não vás embora
vê a vida como chora
como é triste esta canção
não, eu peço, não te ausentes
pois a dor que agora sentes
só se esquece no perdão.

Ah, minha amada perdoa
pois embora ainda doa
a tristeza que eu causei
eu peço, não destruas
tantas coisas que são tuas
por um mal que já paguei.

Minha amada, se soubesses
da tristeza que há na prece
que a chorar te faço eu
se soubesses no momento
todo o arrependimento
como tudo entristeceu.

Se soubesses como é triste
eu saber que tu partiste
sem sequer dizer adeus
meu amor, tu voltarias
e de novo cairias
a chorar nos braços meus».


Poema dos olhos da amada
Oh, minha amada,
que olhos os teus:
são cais nocturnos
cheios de adeus,
são docas mansas
trilhando luzes
que brilham longe,
longe nos breus.

Oh, minha amada,
quê olhos os teus!
Quanto mistério
nos olhos teus;
quantos saveiros,
quantos navios,
quantos naufrágios
nos olhos teus.

Oh, minha amada,
que olhos os teus!
Se Deus houvera,
fizera-os Deus;
pois, não os fizera
quem não soubera
que há muitas eras
nos olhos teus.

Ah, minha amada
de olhos ateus:
cria a esperança
nos olhos meus
de verem um dia
o olhar mendigo
da poesia
nos olhos teus».
Poemas de Vinicius de Morais, in ‘Antologia

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